Em cartaz na capital, ‘Caesar’ reflete jogo político atual

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
06/11/2015 às 08:02.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:22
 (Carmo Dalla Vecchia/Divulgação)

(Carmo Dalla Vecchia/Divulgação)

Desde pequeno, quando ainda morava na cidade de Carazinho, no Rio Grande do Sul, Carmo Dalla Vecchia ouvia a expressão “Até tu, Brutus?” como um sinal de traição e maldade. A peça “Caesar – Como Construir um Império”, em cartaz hoje e amanhã no Teatro Marília, ajudou a entender que, na política principalmente, essa dicotomia não é tão segura.

“Os discursos são cambiantes, mudando de acordo com o momento”, observa o ator, que divide o palco com Caco Ciocler nessa adaptação feita por Roberto Alvim do texto de William Shakespeare, sobre o assassinato do imperador romano Júlio César, em 44 antes de Cristo. Num ano de forte polarização política, a peça não poderia deixar de dialogar com o presente do país.

“É um momento muito propício para (adaptar) esse texto, que nos leva a pensar que há várias versões dentro de um fato histórico. É oportuno questionar se, em algum momento da vida, mudamos o nosso discurso. A peça leva o espectador a se conectar com ele”, registra Carmo, lembrando que “Júlio César” é a obra mais política do dramaturgo britânico.

Caco e Carmo não têm um personagem fixo, o que deixa ainda mais claro, segundo Carmo, que o discurso depende do interesse político. “Dialeticamente, cada um defende muito bem suas ideias. Se você os ouvisse separadamente, sem saber do outro, certamente concordaria”, destaca o ator, que prefere não dar “nomes aos bois” no cenário brasileiro atual.

Depois de liderar uma conspiração contra seu mestre, Brutus assassina Júlio César defendendo que, se não o fizesse, ele se tornaria um tirano. Em seguida, Marco Antônio se pronuncia, ressaltando os méritos do imperador e dizendo que o que acabara de acontecer era uma traição, fazendo o povo se voltar contra Brutus e outros senadores.

Em fuga, Brutus se questiona sobre o que fez e se mata.

A música composta e executada ao vivo pelo filósofo Vladimir Safatle – em sua primeira experiência no campo artístico – é um personagem à parte na peça. “A trilha sonora é um elemento muito forte nessa montagem, dialogando com o ator em cena e também com o próprio público, no lugar de apenas pontuar o que está acontecendo”, elogia Carmo.

Serviço

"Caesar – Como Construir um Império". Hoje, às 21h, e amanhã, às 20h, no Teatro Marília (Av. Alfredo Balena, 586). R$ 40 e R$ 20 (meia)

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