Em disco, Patti Rodrigues presta reverência ao jazz

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
16/12/2015 às 06:51.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:21
 (Divulgação)

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Desde o início, Patti Rodrigues trabalhou sobre dois pilares rítmicos: o jazz e o soul. “Com influências de sonoridades da gravadora Motown e do soul contemporâneo”, diz a cantora, referindo ao disco “Patti e os Mauzões”, que ela lança nesta quarta (16), no Lord Pub.

“Como minha escola musical tem uma raiz forte no rock, foi inevitável permear pelo blues”, prossegue ela, lembrando que o produtor do petardo, Leonardo Laporte, trouxe uma gama de acordes mais elaborados. “Bem evidente na música ‘Caiçuma’, parceria com ele”. Todas as composições, vale lembrar, são em português. “As letras são bem diretas e são recorrentes os temas da liberdade e das realidades culturais diversas”.

Formada em Biologia, Patrícia Rodrigues sempre se viu atraída pelo universo da música, onde, profissionalmente, deu seus primeiros passos na banda Pão de Queijo On The Road. Em seguida, passou pela Dopaminas, até chegar ao projeto Back to Black, tributo a Amy Winehouse. Mais recentemente, resolveu investir na própria lavra, o que resultou no disco citado, de seis faixas. São músicas como “Verdades na Mesa”.

“Com arranjos soul dançantes, a música é um desafio à verdade, um desabafo e, ao mesmo tempo, uma autoafirmação de força, inspirada pelo contexto da black music”.

Já “Banho de Realidade” foi inspirada e escrita após uma vivência na Bolívia. “A música traz um relato das surpresas e choques culturais dessa experiência, com um charmoso arranjo ‘jazzy’, emoldurado por um constante palpitar de sax barítono”, relata.

O embrião do CD pode ser localizado em 2012, quando Patti começou a fazer um quem-é-quem da cena jazz, soul, blues e demais “ritmos negros” de BH. “Essa pesquisa foi iniciada de forma espontânea pelo meu próprio interesse em ouvir e interagir com músicos que tivessem tendências jazzísticas e interesse pelo soul. Depois, foi colocada de forma mais sistematizada com a oportunidade do projeto”, lembra a moça, que resume o disco como “pra cima, dançante, com alguns momentos mais reflexivos”.

Em minhas andanças musicais por Belo Horizonte, em busca de diversão e parcerias, conheci vários espaços em que os músicos interagem de forma improvisada. Desde músicos eruditos, músicos que ainda bebem na rica fonte do clube da esquina, até os autodidatas e populares frequentam os espaços de improviso. Um projeto que me marcou muito foi o “Terça Jazz”, tema de uma das faixas do disco (parceria com Eugênio Aramuni), onde o baterista Neném e o guitarrista Beto Lopes convidavam diversos músicos para um improviso frenético até altas horas da madrugada. As “Jam sessions” que aconteciam no Nelson Bordello também movimentaram muitos músicos. Fiz parcerias nas noites de “Microfone Aberto” que aconteciam em um bar da Rua Viçosa, o Alfândega, e também conheci excelentes músicos no bairro João Pinheiro, nos improvisos que aconteciam no “Crepe da Cléo”, assim como no encontro de músicos do Caiçara e no Berimbau Rock Bar, no Eldorado. Normalmente, os músicos que se encontram nesses espaços ganham a vida tocando nos fins de semana em bandas de baile, de sertanejo ou até em orquestras, dando aula ou fazendo algum “free lancer” mais comercial. E nesses encontros, que acontecem normalmente em dias de semana, fazem um som de qualidade sem muito compromisso com o dinheiro, mas sim com a própria musica, utilizando as artimanhas de improviso tão típicas do jazz. Um cenário em menor escala, mas bem parecido com os relatos do livro “A História Social do Jazz” de Eric Hobsbawm, que fala do contexto de desenvolvimento do jazz em cidades americanas como Nova York. Já no ramo do soul, o improviso é mais corporal, com a dança. Existe, em Belo Horizonte, um movimento muito forte de dança “soul”, iniciado na década de 70, quando foi lançado o Baile da Saudade. Grupos de fãs de James Brown e dos ritmos soul disputam espaços populares na cidade como a Praça 7 e a Feira Hippie para dançarem coletivamente com seus figurinos extravagantes, e povoam a cidade com um alto astral e um ritmo contagiante. Mas também outras bandas se aventuram aos ritmos do “soul funk” autoral como é o caso da banda “Cromossomo Africano”.

Foi bem coeso e conduzido de forma bastante objetiva pelo produtor Leonardo Laporte. Como fizemos todo o processo de pré-produção antes de entrar para o Estúdio Escola, já que o mesmo ainda estava em construção no início do projeto, as gravações fluíram rápidas, pois os arranjos já estavam todos prontos. Portanto , em menos de seis meses, o disco já estava gravado. Nesse período, de fato, se não estava fisicamente no estúdio, meus pensamento estavam sempre lá (risos)

O show vai mostrar, além das músicas do disco, algumas influências e um pouco da minha trajetória na música. Iniciando com um convite para o baile Soul ("Quero Ver Você no Baile", Paula Lima), vamos ter momentos bastante dançantes, inclusive com participação de dançarinos do movimento soul de Belo Horizonte. Também não poderia faltar uma palinha à la Amy Winehouse, minha especialidade na banda Back to Black. Teremos um momento mais romântico, com auge na música “Amor o Ano Todo”, faixa do disco com arranjo para voz e piano. Também teremos uma participação especial. Terminaremos em clima de rock'n roll, afinal, o show acontecerá no Lord Pub, casa tradicional do rock em BH. Em sequência, no mesmo evento, a banda Devise vai lançar um novo clipe.

No último ano, me dediquei inteiramente à música e ao projeto de gravação do disco. Hoje, meu coração bate mais pela música do que pela Biologia.

“Patti e os Mauzões” – Nesta quarta (16), 22h30, Lord Pub (rua Viçosa, 263 – 3223-5979). Ingressos: R$ 20. Venda antecipada sympla.com.br. Os 50 primeiros a comprar o ingresso ganham o CD. Valor do CD no local do evento: R$ 15.

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