Em segundo livro, César Gilcevi explora conjuntura política do país

Jéssica Malta
Hoje em Dia - Belo Horizonte
23/11/2018 às 17:54.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:59
 (Fernando Prates/Divulgação)

(Fernando Prates/Divulgação)

“Nunca pratiquei poesia social e nem coloco a minha obra nessa categoria. Mas os poetas são antenas do momento, então ficam contaminados pelo que acontece. Eles são os primeiros a ir para a guerra e o ‘Retrato do Poeta Quando Devedor do Aluguel’ é a minha arma contra o fascismo”. Assim César Gilcevi, (também vocalista da banda Cadelas Magnéticas), apresenta seu segundo livro, obra ele lança no sábado (01) no Edifício Maletta. Para o autor, a obra é um caldeirão efervescente. “É um rastro de pólvora, assim como o próprio país”, define. 

Apesar da grande quantidade de escritos reunidos em ‘Retrato do Poeta Quando Devedor do Aluguel’ – são 100 poemas que compõem a obra – ele confessa que não esperava escrever novamente tão cedo. “Lancei meu primeiro livro em 2016 e achei que ficaria uns bons anos sem lançar outro Mas logo depois do golpe sofrido pela presidente Dilma, comecei a escrever alguns poemas e vi que eles estavam contaminados por esse clima iminente de catástrofe social e política do país”, conta o autor.

Agora, diante do cenário ainda mais polarizado de um país pós-eleições, ele destaca a força e a importância da obra e, principalmente, da arte, como uma ferramenta de combate. “Ela é o que reconecta as pessoas com a humanidade delas. E a arte brasileira que sempre foi tão combativa, está no momento de voltar a ser. A galera do rap já está fazendo isso há muito tempo. Os melhores poetas brasileiros estão no rap, como o Djonga e o (Fabrício) FBC. Eles estão mostrando as suas armas e não vão abaixar suas cabeças”, sublinha o poeta. 

Testemunho

Ao longo dos poemas que dão forma o livro, Gilcevi compartilha suas impressões sobre as várias questões que ajudam a compor o contexto atual do país. “Achei que não estaria vivo para assistir novamente a ascensão da extrema direita e do fascismo e tem uma parte do livro que fala disso”, conta.

Os tão divulgados ideais do “cidadão de bem” também são abordados por Gilcevi. “Tem uma crítica a esse modus operandi que quer emburrecer as pessoas e acabar com o pensamento livre”, sublinha.

Ainda que seja contaminado pelo contexto político e social do país, a obra também traz questões pessoais do autor “Falo sobre as periferias, sobre um retorno às minhas origens. Embora tenha sido criado por uma família evangélica, eu sou da umbanda e ela me reconectou com minhas origens indígenas e negras”, afirma. 

Poeta bom é poeta morto

Parafraseando um dos lemas da nova política do país, Gilcevi também faz uma crítica à forma como a literatura brasileira é pouco reconhecida no país. “Temos uma geração de grandes poetas escrevendo. Não só em Belo Horizonte, mas na periferia de todo Brasil e não há uma valorização desses artistas”, pontua ele, que destaca a situação da capital mineira.

“A cidade deixa sempre os seus artistas à míngua. Se você não está dentro da avenida Contorno e dentro da tradição artística da tradicional família mineira, você não é valorizado. Acho que nenhum artista, até (Carlos) Drummond e (Manoel) Bandeira nunca conseguiram viver de poesia, embora tenhamos grandes poetas. Mas espero que as pessoas os ajudem a pagar o aluguel”, conclui. 

Serviço: Lançamento do livro “Retrato do Poeta Quando Devedor do Aluguel”, de César Gilcevi, sábado, às 11h, no Bar e Restaurante Lua Nova (Edifício Maletta – avenida Augusto de Lima, 222, sala 42 – Centro). 

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