Entenda o fenômeno zumbi: pesquisador investiga aspectos sociológicos em The Walking Dead

Da Redação
almanaque@hojeemdia.com.br
25/10/2016 às 17:54.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:22
 (Reprodução)

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"The Walking Dead" é uma das séries de mais sucesso no mundo e conquistou um público eclético, desde aqueles que curtem o enredo até as pessoas que se interessam pela temática abordada. Lançada em 2010 e já em sua sétima temporada, "TWD" ganhou, recentemente, um estudo que investiga a sua construção interna e que analisa sociologicamente seus personagens e tramas. O estudo foi realizado pelo pesquisador e mestre em Ciências Sociais pela Escola de Filosofia, Letras e Cieências Humanas (EFLCH) da Unifesp, Jorge Henrique Fugimoto. O pesquisador analisou as cinco primeiras temporadas da série e intitulou o estudo de "Além da TV: um estudo sobre a série The Walking Dead".

Para o sociólogo, a ideia é descobrir as possíveis razões do tema 'zumbis' estar tão presente nas produções contemporâneas e fazer tanto sucesso, como num seriado consudimo por milhões de pessoas, como o em questão. Fugimoto usou aspectos estéticos e conceitos sociológicos para polemizar e destrinchar o assunto. "Há um forte paralelo com as produções zumbis, em especial The Walking Dead, por representarem a ruptura da sociedade, despertando no público as fantasias de sobrevivência e os sentimentos de ansiedade e desconfiança", analisa Fugimoto.
 
Um exemplo que obedece esse aspecto pós apocalíptico é a linguagem cinematográfica da abertura da série. As imagens carregam elementos associados ao caos, como objetos quebrados ou desordenados, sujeira e espaços abandonados. O tom sépia traz referências de algo antigo ou envelhecido, seja pelo gasto com o tempo, seja como representação do passado no interior da trama. A música tema, por sua vez, remete a uma composição típica de filmes de terror ou suspense, causando desconforto, tensão e angústia. "O mundo construído é de um ambiente desordenado, restando aos personagens lutarem por si próprios", comenta o pesquisador.
 
A aparição do nome do seriado na abertura da primeira e segunda temporada, por exemplo, contribui para fortalecer o envolvimento do público com a história, já que traz alusão, de modo sútil, aos zumbis. A sequência de surgimento das palavras The, Dead e Walking, nessa ordem, mostra a passagem de transformação do ser humano em um morto-vivo, já que ele precisa primeiro morrer para, em seguida, voltar à vida e sair caminhando.
 
A série movimenta elementos sociais com os quais os espectadores estão familiarizados. Como fio condutor, está a representação da família burguesa: o pai, que constitui o herói e líder; a mãe, responsável pela manutenção da união entre os entes; e o filho, superprotegido e representando a inocência. Já os demais sobreviventes, com suas próprias peculiaridades, representam certos estereótipos na sociedade de origem étnica ou de origem social. "Os indivíduos se mostram inicialmente divergentes e conflituosos, unidos somente pela necessidade, sobretudo a sobrevivência. Porém, com o passar do tempo, essas diferenças começam a diminuir e há uma ligação maior entre eles", explica Fugimoto.
 
Para o pesquisador, embora não seja possível mensurar e apurar a correlação entre o sucesso do seriado e os anseios e desejos dos espectadores, o público embarca na história. "A audiência não se conservaria fiel a um produto com o qual não estabelecesse certa relação de reconhecimento ou afinidade", comenta. "Ainda que explore um mundo devastado, a trama do seriado aposta na busca do estabelecimento e construção de regularidades e cotidiano, de parâmetros sociais nos quais a própria audiência está inserida", analisa.
 
Já para o orientador da pesquisa e professor do Departamento de Ciências Sociais da EFLCH/Unifesp, Mauro Rovai, o trabalho de Jorge Fugimoto, realizado ao longo de dois anos com bolsa FAPESP, ao colocar o seriado no centro das suas interrogações e utilizar como método privilegiado o olhar atento para a maneira como os elementos expressivos estão articulados na série e no interior dos episódios, retoma as preocupações daquela sociologia do cinema que utiliza o filme como ponto de partida para as suas análises.

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