'Entre Tempos': melancolia das memórias conta história de casal

Bernardo Almeida
22/08/2019 às 09:37.
Atualizado em 05/09/2021 às 20:06
 (Sara Petraglia / Divulgação)

(Sara Petraglia / Divulgação)

As memórias são a linguagem que molda o registro sensível da história de um casal pelas lentes do diretor italiano Valerio Mieli. O belíssimo “Entre Tempos” nos conduz por uma narrativa fragmentada, sempre voltada ao passado, e que em certos momentos até nos desnorteia pela ausência de um presente fixo como referência. 

As incompletudes inerentes à memória viram recursos narrativos nas sutis diferenças de recordação entre pontos de vistas distintos e de forma declarada, quando atormenta o protagonista que se vê traído por tais falhas.

A trama é liderada por dois personagens anônimos, Ele e Ela, que guardam seus nomes somente um para o outro. Na tentativa de preservar a euforia do momento em que se apaixonaram, Ele faz das lembranças combustível para abastecer seu irremediável sofrimento frente à vida. Uma característica que a encanta de início, mas que tende a se desgastar com o tempo. 

A forma de lidar com o tempo os distancia, diferença muito bem ilustrada ao contrastar a reação de ambos à morte do próprio cachorro, quando crianças. Ela compra outro bichinho no dia seguinte, enquanto Ele é repreendido pela mãe ao colocar seu animal de estimação morto no freezer, em um vão esforço de congelar o tempo.

Com um ritmo perfeitamente harmonizado por trechos de Vivaldi, Bach e Beethoven, o filme transborda sensibilidade ao expressar a angústia de quem nunca se encontra no tempo, somente em espaços.

Exibido no Festival do Rio do ano passado, “Entre Tempos” chega às salas de cinema do Brasil hoje. Em Belo Horizonte estreia na Cineart Ponteio Lar Shopping e no Cine Belas Artes.

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