Entre ventanias e leves sopros, mineira canta o amor e a resistência em novo disco

Lucas Buzatti
14/01/2019 às 07:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:00
 (Amanda Mendonça/Divulgação)

(Amanda Mendonça/Divulgação)

“São dias e noites de amor e guerra, como nos contos de Galeano, na época das ditaduras latino-americanas. Precisamos ficar vivos e juntos para resistir, precisamos nos amar e contar a história dos sobreviventes. O disco é sobre isso. Sobre afeto e amor como resistência”. 

Assim, a rapper mineira Brisa Flow sintetiza a temática de “Selvagem Como o Vento”, seu segundo disco, lançado ao fechar das cortinas do turbulento 2018. Com 11 faixas autorais, o álbum evidencia os novos caminhos estéticos e sintetiza a caminhada da artista – filha de chilenos, nascida em BH e radicada em São Paulo. 

“Selvagem como o vento também é minha trajetória artística. Acredito que minha vida foi movimentada por furacões e brisas leves. A saída dos meus pais do Chile, na época de Pinochet, e a vinda da minha mãe comigo na barriga de nove meses, atravessando a fronteira, é uma ventania brava”, ressalta. “Ela conta que sentia uma esperança que dava força e que meu nome, Brisa de la Cordillera, veio daí. Da brisa leve que soprou dos Andes. Mas ela sempre brinca que meu nome deveria ser furacão. Acho que tudo começou aí, essa mistura de leveza e braveza”, diz. 

As “brisas suaves”, segundo a rimadora, ficam por conta dos amores cultivados e do alívio em fazer arte.“Meus pais são artesãos, cresci rodeada da galera das artes em Minas Gerais. Na feira da Afonso Pena, depois nos shows do Matriz, no Duelo do viaduto Santa Tereza”, relembra. “Quando me mudei para São Paulo, eu continuei na vivência das artes e fui fazer faculdade de música. Acho que sou um pouquinho de cada um desses lugares incríveis por onde passei e adquiri a vivência que expresso no meu som”, sublinha. 

Caminhos e processos

Com relação à sonoridade de “Selvagem Como o Vento”, apesar de ter o rap como linha-guia, Brisa pontua que buscou não se prender a rótulos. “O rap me deu a liberdade de misturar sonoridades, então continua sendo rap. Mas eu não me prendo a um estilo ou referência. Nem no que eu ouço nem no que eu faço”, pondera. “Principalmente sendo mulher, sinto que querem nos limitar a fazer um só tipo de som. Somos livres para experimentar novas sonoridades. Esse é um disco com rimas e beats de boom bap, neo soul, techno e house”.

Além disso

A artista assumiu, também, as rédeas da produção musical, que divide com o paulistano Jonera. Além de assinar as composições e a direção musical do álbum, Brisa também produziu faixas como “Caboclo Foi Pra Selva”, inspirada na poesia “Uni-ão”, de Eliane Potiguara. 

“Eu fiquei muito feliz com o resultado e com a autonomia no processo de criação. Criei as letras, pensei o conceito, virei noites no estúdio cortando e colando, ouvindo e regravando as músicas”, conta a artista, traçando diferenças entre seu álbum de estreia, lançado em 2016. 

“‘Newen’ é um disco mais rap, apesar de já ter bastante neosoul e levadas latino-americanas. Mas em ‘Selvagem Como o Vento’ me arrisquei mais a misturar outras sonoridades e acredito que estou mais madura nas ideias das letras”, destaca.

Sobre o lançamento, Brisa revela vontade de fazer shows na capital mineira. “Estou feliz com os lugares onde já confirmamos o lançamento, mas quero muito fazer o show em BH. Quero ir cantar e dançar na 1010”, afirma, citando a festa de música eletrônica. “Enquanto isso, ouçam o disco, mandem para quem vocês amam. Fiquem juntos, fiquem vivos. Segue o baile, segue o som”.

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