"Esculacho", o que há por trás do funk ouvido no ônibus

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
13/12/2013 às 08:05.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:46
 (Divulgação)

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Para muitos passageiros, o veredicto é um só: falta de respeito. Para aqueles que propositadamente retiram os fones de ouvidos de seus rádios e celulares, a música em alto volume dentro dos ônibus é uma maneira de marcar a sua identidade e origem, com o funk sendo a senha para mostrar que, mesmo fora de seu ambiente, eles continuam sendo da periferia.

O diretor Marcelo Reis deixou a posição de usuário incomodado com o excesso de barulho para investigar, no curta-metragem documental “Esculacho”, um fenômeno crescente em Belo Horizonte. A justificativa encontrada pelo filme, que será exibido amanhã, às 16 horas, no Sesc Palladium, é de um modismo como tantos outros realizados por jovens de todas as classes que querem ser percebidos pela sociedade.

“O curta tem uma cara etnográfica, porque não quero direcionar nada. O que faço é uma colagem de jovens de oito comunidades falando os motivos de ouvirem música alta nos coletivos. Em alguns deles, vemos uma carga intensa de conceitos, mas outros não sabem explicar o porquê de fazerem isso. Embora saibam que estão perturbando os outros passageiros, não há um discurso agressivo”, destaca Reis.

Modismo

O realizador começou a observar o modismo em 2009, ao embarcar, no Santa Efigênia, bairro onde mora, em ônibus que vinham do Taquaril e do Alto Vera Cruz. “Em quase todo ônibus eu via essa situação, em que um jovem ou grupo estava com dispositivos sonoros. Ficam meio à parte do resto, sem se importar com o clima de constrangimento, até pelo conteúdo pornográfico de algumas músicas”.

O funk é o estilo preferido por “falar de onde vivem e expressar os sentimentos deles”, mas o documentário mostra que essa música não só incomoda os usuários de ônibus, sofrendo uma grande marginalização da sociedade. “Existe um cerco ao funk, com a proibição de bailes nas ruas. Defendem que nesses locais há aliciamento de menores por parte do tráfico de drogas”.

Trilogia

O curta é a segunda parte de uma trilogia sobre as pessoas sem voz de Belo Horizonte. O primeiro registro foi no longa “Aterro”, sobre a vida de catadores em lixões.

Reis prefere manter segredo a respeito do terceiro. Os dois primeiros tiveram a aprovação da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. “A justificativa pesa, pois são filmes que trazem retorno e reflexão para a cidade”, registra. 

“Esculacho” – Sábado, às 16h, na sala José Tavares de Barros do Sesc Palladium (Av. Augusto de Lima, 420). Gratuito. 

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