Espaço Comum Luiz Estrela completa um ano com olhos no presente

Clarissa Carvalhaes - Hoje em Dia
04/11/2014 às 08:16.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:53
 (Maria Objetiva)

(Maria Objetiva)

Há pouco mais de um ano, o casarão abandonado na rua Manaus, 348, no bairro Santa Efigênia, deixou de ser mais um prédio sem uso na capital mineira para transformar-se em espaço vivo, batizado Espaço Comum Luiz Estrela. A bem da verdade, quando nasceu, o projeto parecia não ter lá, um futuro muito promissor. Afinal, para o casarão já havia um plano do Governo do Estado, de transformá-lo em um memorial em homenagem a Juscelino Kubitschek – um projeto que seria executado pela Fundação Educacional Lucas Machado com o aval da Diretoria de Patrimônio Público.

E o que fez tudo mudar? Para começar, a persistência: após ocupar o espaço, uma trupe não arredou o pé – estendeu acampamentos por semanas no prédio até que a decisão fosse revogada – ou ao menos discutida.

Nesse meio tempo, os ocupantes acabaram descobrindo, no interior do casarão, salas que guardavam vestígios de clausura e sofrimento de pequenos internos que, entre 1947 e 1979, passaram pela edificação enquanto o espaço era um Hospital de Neuropsiquiatria Infantil.

Após o Hoje em Dia divulgar a descoberta com exclusividade, o Governo do Estado recuou na decisão. No dia seguinte à publicação da reportagem, o chefe da Assessoria de Articulação, Parceria e Participação, Ronaldo Pedron, garantiu que o espaço não estaria mais restrito a contar a história de um homem – mas de todos os que passaram pelo lugar. “Era um espaço conhecido, embora estivesse esquecido”, reconheceu Pedron, à época.

A partir daí, seguiram-se reuniões e mais reuniões onde foram confrontados projetos que tinham como propulsor o futuro do casarão. Em 18 de dezembro de 2013, o Espaço, finalmente, assumiu a responsabilidade pelo prédio: do gerenciamento da reforma à administração do local por 20 anos.

“Com a cessão de uso do casarão no fim do ano passado, um dos nossos principais compromissos é com o restauro do prédio e, nesse sentido, nós tivemos vários avanços”, afirma uma das integrantes do Espaço, Paula Kimo.

Arrecadação

“No início do ano fizemos uma campanha colaborativa no Catarse (site de financiamento coletivo) e conseguimos arrecadar recursos para primeira fase do restauro do casarão. Hoje, o casarão está todo escorado e, portanto, protegido do que era o seu principal risco: o de desabamento. Agora, o Núcleo de Patrimônio Cultural, Memória e Restauração do Espaço trabalha na criação do projeto arquitetônico”, explica.

Além do Núcleo de Patrimônio, o Espaço conta ainda com outras frentes: como shows, exibição de filmes e assembleias. Núcleos que, cada um à sua maneira, vêm desempenhando um importante papel para o que será o futuro do casarão.

Participação da sociedade civil e do Estado no processo

Não é segredo que a autossustentabilidade é um desafio para qualquer organização. Seja ela um Instituto Inhotim ou um Projeto Portinari. Mas para o Espaço Comum Luiz Estrela, a delicadeza do assunto é ainda mais tênue quando considera-se que o grupo tem como princípio básico a participação civil e do Estado exclusivamente. Ou seja, por lá não há espaço para patrocínio de empresas privadas.

“O Estrela é um espaço que vamos restaurar com a participação civil e do Estado. Nós acreditamos que cabe ao Estado a responsabilidade com o patrimônio cultural e com a memória da cidade. Então, para realizar todas as obras do casarão, vamos contar com recursos de fundos públicos aliados a campanhas colaborativas”, explica Paula Kimo, integrante do Espaço, acrescentando que o próximo passo é restaurar o telhado e a fachada. “Estamos começando a desenvolver um grupo de autogestão que pensa a questão da geração de renda, ou seja, as atividades que acontecem aqui podem gerar algum tipo de recurso – tanto para o artista, quanto para o espaço”.

Autogestão

Entre as atividades que exemplificam essa autogestão está a “Feirinha Estelar” – evento quinzenal organizado por produtores e artistas que precisam de espaço para vender seu trabalho. “Essas feiras acontecem ao lado do casarão e parte do recurso segue para o restauro do prédio. Essa é a contrapartida oferecida pelo artista que está utilizando o espaço”.

Paula estima que, atualmente, cerca de 150 pessoas estão envolvidas diretamente com o Espaço. Um número que varia de tempos em tempos, mas que de forma alguma inviabiliza ou interfere na evolução do Estrela.

“Desde a ocupação, novas pessoas chegaram, mas algumas que estavam no início foram embora. Essa é a dinâmica que esperamos para que, assim, o Espaço possa abrigar mais gente. Essa rotatividade é vista como um valor importante”, assegura.

Sonho

Independentemente de quem tenha ido, ficado ou acabado de chegar, um sonho em comum continua a ser compartilhado por quem passa por ali: “Ocupar o espaço e conseguir levar as atividades que desenvolvemos do lado de fora para o casarão. Assim, vamos ampliar a possibilidade de participação de coletivos e dar mais infraestrutura para todo mundo. Queremos ter várias salas funcionando no casarão: em uma, pessoas trabalhando com vídeo; na outra, com dança”, conclui.

Os desafios para o Estrela são muitos. Mas para quem até um ano atrás tinha apenas um “não”, conquistar o “sim” é cada vez mais um gesto libertário.

Sábado tem feirinha? Tem sim senhor!

No próximo sábado, a partir das 10h, acontece a “Feirinha Estelar” do Espaço Comum Luiz Estrela. Na ocasião, o público poderá conferir arte, artesanatos, comida vegana, vegetariana, bebidas, informática, bazar, trocas... Tudo isso acompanhado de muita música e apresentações circenses. A feirinha acontece quinzenalmente, aos sábados.

No domingo, a partir das 11 h, é a vez do “Tropeirão da Guarani-Kaiowá.” A ação acontece para “dar um gás” na construção do Centro Social do Espaço com a promessa de festa com direito a música, bazar e venda de tropeiro (com opção vegetariana) e cerveja. Todo o dinheiro arrecadado será destinado para a compra de materiais de construção.

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