(Flávio Patrocínio/Divulgação)
Em tempos em que a história é questionada sob um viés revisionista, o espetáculo “Mata Rasteira”, que estreia nesta sexta-feira no Sesc Palladium, lança mão de dados históricos e pesquisas para colocar em cena uma trajetória inegável: o caminho de luta por liberdade e sobrevivência travado pela população negra no país desde os tempos da escravidão.
A peça é uma adaptação do romance “Mata Rasteira – A Origem da Resistência”, escrito pelo autor e jornalista sorocabano Abner Laurindo. É um trabalho que traz muitas influências do cinema, da literatura jornalística. A obra tem uma maleabilidade que já sugeria uma adaptação para outro tipo de mídia”, pontua Gabriel Coupe, diretor do espetáculo.
Além da maleabilidade do texto de Laurindo, o ator Rodrigo Negão, idealizador e protagonista da peça, destaca a potência da própria história contada na obra, que acompanha a trajetória de [TEXTO]Nlongi, um angolano que vem ao Brasil como escravo.
“Ela fala sobre a vida dele em estado de escravidão, como ele desenvolve, através da dança e da relação com os animais, a sua resistência. É também uma possível história sobre as origens da capoeira”, explica o ator.
Para ele, o enredo oferece um mote para tratar de questões atuais. “Podemos falar de questões como dificuldades na busca por trabalho, sobre o racismo estrutural, o genocídio da população negra, a segregação”, enumera.
Rodrigo explica que, para lançar luz sobre essas questões, a peça traça uma linha histórica, dos tempos de escravidão aos dias atuais.
“Mostramos a história que se passa no século XVI, mas fazendo um espelhamento, construindo um momento de reflexão, mostrando algumas coisas que aconteciam na época e que, infelizmente, ainda acontecem, mas só mudaram de nome”.
O ator ressalta também a importância da discussão sobre o racismo trazida pelo espetáculo. “É urgente falar sobre isso. O racismo, de um modo geral, em todas as instâncias, nos é muito caro. O que acontece com a população negra até hoje é lamentável. É importante ter o povo preto falando da sua história e colocando-a para o mundo”, afirma.
O diretor do espetáculo reforça o coro, sublinhando o valor das informações trazidas pelo espetáculo. “Estamos vivendo uma série de derrotas nos campos da educação, da cultura e dar arte. O ‘Mata Rasteira’ é importante principalmente pelo seu rigor histórico. Mesmo que se trate de uma história ficcional, é embasado em coisas que realmente aconteceram, que foram estudadas”, destaca Coupe.
SERVIÇO
Temporada de estreia do espetáculo “Mata Rasteira”, de sexta-feira a 17 de março – às sextas e sábados, às 20h e no domingo, às 19h – no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro).
Ingressos: R$ 15 (inteira), R$ 7,50 (meia)