Espetáculo 'Movimento Derivado' promove diálogo da dança com a pintura

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
28/05/2021 às 16:25.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:02
 (FOTOS LUISA MACHALA/DIVULGAÇÃO)

(FOTOS LUISA MACHALA/DIVULGAÇÃO)

Graziela Andrade não tem dúvidas de que a pandemia levou a dança a um momento de reconstrução. Sem o encontro conjunto de bailarinos com os espectadores no formato presencial, um novo “coreógrafo” surgiu a partir da transmissão digital.

“O editor de imagens faz este papel, editando o olhar a partir de uma seleção de imagens”, registra Graziela, responsável por oferecer aos bailarinos da Companhia Ananda os elementos de criação para o espetáculo “Movimento Derivado”, que será apresentado nesta sexta-feira (28) e amanhã, às 19h, no canal do grupo no YouTube.

“Tudo foi um pouco ensaiado, claro, com eu e a Anamaria Fernandes dirigindo este processo, mas o momento em que um dos bailarino fará um solo, destacado no quadro maior, ou quando haverá um duo, com duas telas lado a lado,  é feito ao vivo”, afirma Graziela.

Ela ressalta que, como um trabalho constituído durante a pandemia, a crise sanitária mundial é determinante no processo. “Este precisou se inovar e se construir a partir dos limites que a gente tinha. Eu falo que o trabalho foi mediado por telas, a partir de uma tela de tecido que será virtualizada, com apresentação em telas”.

A tela de tecido citada por Graziela é o ponto de partida para “Movimento Derivado”. Desde 2018, ela vem se dedicando à pintura, “uma habilidade que eu não sabia que tinha e que me levou para um lugar muito catártico de produção”.

Dentro desta “experiência bastante visceral”, a colega Anamaria Fernandes restabeleceu o contato de Graziela com as suas origens de bailarina. “Fomos conversando e pensando nas possibilidades dessa pintura virar um outro tipo de movimento. É a ideia do movimento derivado, de se fazer um caminho inverso”, explica.

Graziela costumava dizer – antes mesmo da criação do espetáculo –  que as pinturas dela eram movimentos dançados, já que a gestualidade que levava para o tecido dizia respeito aos seus movimentos. “O que é para o outro olhar para este quadro e encontrar a dança aqui? O desafio para os bailarinos foi esse”, aponta.

A partir de quatro telas (depois reduzidas a duas), Graziela enviava vídeos aos bailarinos quase diariamente, explicando o que sentia na hora que estava produzindo. Depois os convidei a acompanhar a produção de um quadro, camada por camada, explicando como encontrei determinada cor e o que ela representava”, lembra.

A resposta  foi no sentido de, a partir de uma gestualidade própria, mostrar como ela tocou os bailarinos e como poderia se transformar em movimento.N/A / N/A

Espetáculo é dirigido por Anamaria Fernandes, em parceria com Graziela Andrade

“Estamos, na verdade, reinventando uma tecnologia em função da arte"

O caminho entre as pinturas de Graziela Andrade e a resposta dos bailarinos, transformada em movimentos, é definido pela artista como uma espécie de tradução de linguagem. “Embora tenha sido um pouco estudada, a dança é improvisada. Não há uma coreografia determinada”, assinala.

“Movimento Derivado” é resultado, segundo ela, de uma tentativa de inverter o processo  de criação em função dos limites impostos pela pandemia. “Como continuar a dançar, como dançar coletivamente sem estar presente? A dança é uma das artes que tem como maior exigência a presença. Ela só acontece no corpo, naquele momento”, analisa.

Os quadros escolhidos para alimentar o imaginário dos dançarinos foram “Roturas” e “Epitélio”. O primeiro, originário das pinturas inaugurais de Graziela, é avaliado como bem rudimentar em algum aspecto, ao mesmo tempo muito forte e cru.

“Epitélio”, por sua vez, tem uma feitura curiosa, a partir dos pés sujos de tinta das duas filhas sobre uma tela de tecido. “Depois fui transformar realmente em tela. Por isso tem esse nome, devido aos registros de pele nossa que, posteriormente, fui cobrindo com outras camadas. Alguns (registros) emergiram e outros diluíram”, detalha.

Graziela enfatiza que a companhia não está pegando uma tecnologia que foi feita para fazer arte. “Estamos, na verdade, reinventando uma tecnologia em função da arte, para que sirva de arte também”.

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