Espetáculo “S’imbora, o musical” mostra do auge à decadência de Wilson Simonal

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
16/10/2015 às 08:02.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:04
 (Leo Aversa)

(Leo Aversa)

Os musicais da Broadway costumam ter uma mesma linha de roteiro: uma ascensão seguida de decadência e redenção. Mas ao transformar a vida de Wilson Simonal em uma história teatral, os autores não poderiam ter a linguagem americana como referência. “Temos ali a dramaticidade da ascensão e da queda vertiginosa.

Tratamos como se fosse a estrutura de uma ópera”, conta Nelson Motta, que assina, ao lado de Patrícia Andrade a dramaturgia de “S’imbora, o Musical – A História de Wilson Simonal”, em cartaz desta sexta (16) a domingo (18), no Grande Teatro do Palácio das Artes.

De acordo com o escritor, ele teve todos os elementos para fazer um espetáculo de qualidade: uma grande história e músicas sensacionais. “O personagem há muito tempo me interessava, porque é altamente dramático, trágico até, polêmico e talentosíssimo, ao mesmo tempo.

É um cara que chegou a ser do tamanho do Roberto Carlos, mas que depois virou um zumbi, um morto vivo na música”, diz Nelson Motta, que escreveu sobre Simonal pela primeira vez ao dedicar um capítulo a ele no livro “Noites Tropicais”, lançado poucos meses antes da morte do cantor, em junho de 2000.

Em “S’imbora”, quem encarna Simonal é o ator Ícaro Silva, que já havia interpretado Jair Rodrigues em “Elis, A Musical”, também de autoria de Nelson Motta e Patrícia Andrade. É ele quem mostra como o rapaz negro e pobre alcançou fama e popularidade, para depois ser esquecido.

Duas fases

Motta explica que teve a intenção de mostrar a grandiosidade do personagem, sem se furtar de mostrar seus vários defeitos. “Ele era como os negros americanos. Era bonito, rico, talentoso, marrento. Tinha uns problemas como cantor, era exagerado às vezes, tinha mau gosto em outras, mas, no geral, era um colosso como cantor. Jamais poderia ser esquecido”, diz o escritor, lembrando que Simonal ganhou muito dinheiro com o trabalho – chegou a fazer 250 shows por ano, no auge –, mas morreu pobre porque foi roubado por seu contador. “Não se falava dele nem para falar mal”.

Público também pode se identificar com a triste história

Quando assistiu ao documentário “Ninguém Sabe o Duro que Dei”, de Claudio Manoel, Pedro Brício pensou em como Simonal inspiraria um perfeito musical. Não imaginava que, anos depois, se tornaria diretor de um espetáculo dedicado a ele, lhe permitindo um verdadeiro mergulho no universo do cantor.

“Vejo o Simonal como um grande artista, um intérprete extraordinário, dos mais virtuosos que o país já teve. Um showman que comandava as plateias como poucos na história da nossa música. Um artista que merece ter a sua obra conhecida e prestigiada”, conta Pedro Brício, que leu todas as biografias relacionadas ao Simonal e estudou toda a sua discografia.

Delicado

A direção teve de ter delicadeza ao abordar o declínio do cantor. Isso aconteceu em 1970, depois de Simonal denunciar seu contador a policiais do DOPS, que torturaram o homem. O caso seria determinante para que o artista fosse rechaçado por colegas.

“Fizemos um espetáculo sem prejulgamentos, nem focamos excessivamente na questão dos problemas políticos que ele teve”, diz o diretor. “A grandeza do espetáculo está em mostrar esses momentos tão distintos na vida dele. O ponto de identificação da plateia é grande, porque fala de um golpe de destino que todo homem, de uma maneira ou de outra, pode sentir”.

“S’imbora, O Musical – A História de Wilson Simonal” no Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537). Nesta sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Plateia I: R$ 180 e R$ 90 (meia); Plateia II: R$ 160 e R$ 80 (meia); Plateia Superior: R$ 140 e R$ 70 (meia)

 

 

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