Estética western spaguetti inspira longa de mineiro

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
25/05/2015 às 08:46.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:11
 (DIVULGAÇÃO)

(DIVULGAÇÃO)

O título do filme “Faroeste”, por si só, já parece querer definir, numa única palavra, todas as suas intenções: a principal delas, a ousadia em enveredar por um gênero que, salvo raras exceções, se perdeu no tempo, sem conseguir se comunicar com as novas plateias, agonizando na década de 1970.
Pode soar como uma adesão tardia dentro de uma cinematografia sem tradição em bangue-bangues, mas o filme do mineiro Abelardo de Carvalho tem muito mais a oferecer, como recorrer a referenciais do gênero, especialmente do western spaghetti, para se criar uma produção autenticamente nacional.
Ao usar um curioso expediente, dublando atores com vozes que já foram emprestadas a Clint Eastwood e tantos outros caubóis do cinema, “Faroeste” conduz o espectador a um terreno estranho, em que o filme ganha uma feição internacional, deixando de ser “brasileiro”, no pior sentido que isso possa gerar.
É como se, ao afrontar sutilmente os nossos preconceitos em relação ao gênero, ganhasse um selo de qualidade, tirando o filme de uma rotulação automática que o levaria às paródias produzidas pela chanchada “Matar ou Correr”, de 1954, e pela pornochanchada “Condenada por um Desejo”, de 1971.
Além da comparação inevitável com os filmes sobre cangaço, que também se apropriaram dos clichês do faroeste. O estranhamento provocado pela dublagem vai, aos poucos, se acomodando, permitindo que a história – baseada em fatos reais ocorridos em Minas – assuma seu papel.
Desconfianças
A narrativa também parece dar esse tempo de assentamento, com vários planos longos, muitos deles silenciosos, sobre dois cavaleiros solitários, um pistoleiro e um ajudante, até que o conflito se estabeleça, uma espécie de “Othelo”, de Shakespeare, levado para o meio rural.
Enfim, entramos no terreno das desconfianças, das traições e dos homens amargurados e condenados, tão comuns aos “spaghetti” de Sergio Leone (“Era uma Vez no Oeste”) e Sergio Corbucci (“Django”). Os silêncios e os closes nos olhos só reforçam a ideia de uma terra amaldiçoada.
Não deixa de ser curioso que Luis Garcia, o bandoleiro destemido, seja estrábico, simbolizando a maneira como o diretor flerta com a estética do faroeste sem jamais torná-la um protagonista, abandonando-a sempre quando se um espera um clímax violento para se resolver cada sequência.
Faz jus ao seu nome que recebeu no exterior (“Faroeste Barroco”), impregnado de elementos sacros e explorando em sua fotografia traços barrocos como a ideia de movimento constante e de espacialidade profunda. Tudo isso ajuda a dar um ar pesado e fragmentário à narrativa, raro nos faroestes.
Filmado na região de Pains, “Faroeste” é uma história oral, apesar de sua força imagética, o que o aproxima ainda mais da cultura brasileira. Conduzida sob suspeição pelo narrador e amigo do protagonista, essa oralidade tem seu incômodo ampliado justamente pela dublagem, que acentua a sua fragilidade.

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