Estreia filme que representará o Brasil na busca do Oscar de produção internacional

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
29/11/2021 às 14:34.
Atualizado em 08/12/2021 às 01:10
 (Policial Daniel sai de Curitiba em direção a Sobradinho para dar um novo rumo em sua vida)

(Policial Daniel sai de Curitiba em direção a Sobradinho para dar um novo rumo em sua vida)

Representante do Brasil na busca por uma indicação ao Oscar de melhor produção internacional, “Deserto Particular” tem como protagonista um policial saído de Curitiba. Não pode ser apenas coincidência o fato de esses ingredientes remeterem à operação Lava Jato, iniciada na capital paranaense, determinante para uma guinada à extrema direita liderada por nomes ligados a forças de segurança.

Não há nenhum conteúdo político no longa-metragem de Aly Muritiba, já em cartaz nos cinemas, mas é possível fazer uma leitura mais profunda sobre o destino do personagem e suas consequências. Nesse sentido, é a obra que talvez mais se aproxime de um sentimento reinante no país, a respeito de algo ruim que tenha ocorrido e a necessidade de reparo, embora ainda sem saber como.

O sentimento é expresso em nossa relação com o policial Daniel (Antonio Saboia). Ele está sem rumo após ter participado de uma operação policial e se excedido, sendo afastado da corporação. Nunca saberemos detalhes do que ocorreu, tornando mais evidente a atmosfera de perplexidade que envolve a narrativa, que só se dissolverá, em parte, quando o personagem resolve mudar de rota.

Nessa tomada de decisão, transcorridos 30 minutos de projeção, finalmente acompanhamos os letreiros de “Deserto Particular”. É como se o filme começasse naquele momento, promovendo o desejo de apagamento. Os equívocos do passado precisam ser imediatamente exorcizados, o que só se efetiva por meio do amor, em seu sentido mais amplo.

Daniel viaja centenas de quilômetros entre Curitiba e Sobradinho, na Bahia, na busca de reconciliação com a outra metade do Brasil. Lá encontra Sara, mulher que representa uma visão oposta de tudo o que havia construído. É ela – diferente (para usar um termo inespecífico e não estragar a surpresa do filme), nordestina e pertencente à classe pobre e trabalhadora – quem conduzirá o policial nesse processo.

A escolha de Sobradinho como cenário do início dessa transformação é simbólica: uma cidade que foi realocada de lugar à força para a construção de uma usina hidrelétrica. Nas palavras de Sara, metaforicamente represa um rio de sentimentos prestes a explodir. Para Muritiba, é preciso fazer um caminho de volta, nem que seja para chegar a um lugar diferente, mas distante da falta de amor.

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