Evento discute o cyberfeminismo com palestras e shows na capital

Jéssica Malta
17/09/2018 às 15:02.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:29
 (Divulgação)

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“Para mim, a internet é sobretudo um espaço de militância”. Quem afirma é a professora e ativista do movimento negro feminista Luana Tolentino, uma das vozes que se reúnem nesta sexta-feira, na Idea Casa de Cultura, para conversar a respeito do Cyberfeminismo e do ativismo na era digital.

O conceito, que não é novo – data da década de 1990 – tem ganhado cada vez mais força, principalmente pela atuação de inúmeras mulheres na internet, que utilizam a rede para discutir, explicar e propagar o pensamento feminista, antes restrito principalmente ao ambiente acadêmico ou a grupos e associações de mulheres.

“Esses debates ganharam a internet e isso possibilitou que o feminismo e suas pautas se tornassem acessíveis a um número maior de pessoas”, sublinha Tolentino.

Além da maior acessibilidade – hoje não é difícil encontrar jovens e até mesmo adolescentes debatendo o feminismo, principalmente nas redes sociais – a professora destaca ainda a visibilidade angariada nesses ambientes online. “Vemos emergir vozes que historicamente foram silenciadas, como é o caso das mulheres negras”, pontua.

Mas a atuação não se limita apenas a esses espaços. Tolentino ressalta também como os questionamentos construídos na internet ultrapassam os limites da própria rede. “O cyberfeminismo tem pautado a mídia e programas de televisão. Tem impactado na maneira de agir e de pensar das pessoas e tem atingido, inclusive, os espaços de decisão”, observa.

A artista Luiza Valentim, que também participa da conversa, endossa o coro, e pontua as possibilidades da internet. “É importante usar esses espaços para fortalecer e expandir a rede de ideias que promove a igualdade. Para mim, é importante trazer à tona os distúrbios sociais que me afetam diretamente como mulher e como pessoa trans, com a finalidade de decifrá-los e desconstrui-los”, afirma.

Ela ressalta ainda a importância da representatividade em momentos de fala, como a discussão feita no Idea Casa de Cultura. “É imprescindível para articular mecanismos de acesso aos espaços de poder por pessoas historicamente e culturalmente prejudicadas”, sublinha.

O outro lado

Embora a internet tenha sido uma grande aliada na luta feminista, ela também gera ruídos problemáticos. “Graças à internet, o feminismo ganhou força como pauta nos últimos anos e ganhou um número enorme de novos (as) adeptos (as), mas, ao mesmo tempo, ganharam força discursos de ódio ou fascistas e extremistas, e figuras como Trump e Bolsonaro chegam a ser problemáticas mesmo para conservadores”, observa a cantora e compositora Salma Jô, vocalista da banda Carne Doce.

Além da roda de conversa, Salma sobe no palco d’A Autêntica, na sexta, encerrando a programação do evento. “Mostraremos músicas do disco novo, ‘Tônus’, é um show com uma estética poderosa. Vai ser lindo”, adianta ela, que vê na arte um aliado na discussão e propagação dos ideais feministas.

“Ela humaniza, gera empatia, acredito nisso. Eu gosto, por exemplo, quando nós furamos nossa bolha e emocionamos pessoas de fora do nosso nicho. Isso já aconteceu várias vezes. Eu fiz uma música sobre aborto e vi pessoas antiaborto apreciarem a letra. Acho que esse é o nosso poder”, finaliza a artista.

 Guto Muniz / N/A

A atriz mineira Teuda Bara, do Grupo Galpão,

é uma das participantes do bate-papo

 Antes da internet, tema se mantinha vivo em encontros

Se hoje o feminismo é propagado por meio de incontáveis dispositivos e ferramentas disponíveis na internet, antes a divulgação dessas ideias corria por outros meios.

“Nos reuníamos muito, havia encontros em praças. Hoje não vemos mais isso. Discutia-se mais as coisas. Lembro da Praça 7 lotada, de caminhar da Praça da Liberdade até ela (a Praça 7) em uma perna de pau com o Grupo Galpão pelas ‘Diretas Já’, que era um tempo terrível”, rememora a atriz Teuda Bara, que também participa da roda de conversa a respeito do “Cyberfeminismo”.

Embora as coisas tenham tomado outros rumos com o advento da internet, Teuda acredita que a luta continua a mesma. “Lutamos ainda contra o machismo, contra o pai, contra o irmão e esse discurso de opressão que costuma ficar encoberto”, sublinha a atriz, referindo-se a situações como a proibição ou o julgamento do uso de determinadas roupas.

“É um absurdo o moralismo, ele vem sempre com as mesmas características. Lembro de estar trabalhando e de já ter o meu dinheiro, queria comprar uma sobressaia, que era uma saia em cima de um short que se usava com uma bota, e meu irmão falar que eu não podia usar, que eu estava velha. Eu tinha 20 e poucos anos”, recorda a atriz.

Confessando não ser muito fã da internet – ela conta que utiliza somente o e-mail, o WhatsApp e, no máximo, o telefone – Teuda atenta para o lado perigoso da rede. “Como tudo na vida, a internet é uma faca de dois gumes. Assim como a televisão, como o cinema, ela pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal, como para espalhar mentiras, falar mal, fazer bullying”, pontua. “Eu não endeuso essa internet aí. Não uso mesmo, evito um monte de amolação. Não tenho esse negócio de os outros ficarem me seguindo, nem de seguir os outros”.

O Idea em Pauta começa nesta sexta-feira na Idea Casa de Cultura (Rua Bernardo Guimarães, 1.200 – Funcionários). Às 22h, a cantora LULI e a banda Carne Doce se apresentam n’A Autêntica(R. Alagoas, 1.172 – Savassi)

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