Ex-mafioso que se tornou pintor vira sensação em Roma

AFP
22/01/2013 às 10:03.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:52
 (Gabriel Bouys/AFP)

(Gabriel Bouys/AFP)

ROMA - O passado é de assassino e traficante da Cosa Nostra e, 30 anos depois, o presente é de pintor de sucesso, que expõe suas obras numa galeria de Roma: essa é a vida do ex-mafioso Gaspare Mutolo.

Mutolo, hoje com 72 anos, tem um passado sinistro na Itália. Ele organizou sequestros, traficou drogas e matou por encomenda para o chefe mafioso Toto Riina, com 22 homicídios por estrangulamento no seu currículo.

Em 1991, Mutolo mudou completamente de vida e virou um "arrependido da máfia", colaborando com os famosos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino para acabar com a máfia siciliana Cosa Nostra.

Contudo, essa colaboração não o livrou do processo que condenou dezenas de chefes mafiosos e ele teve que cumprir 16 anos de prisão.

"Mutolo é uma bela história da pintura, uma verdadeira redenção social e moral: a pintura o ajudou a se salvar no plano moral e o convenceu então a colaborar com a justiça", explicou Marco Dionisi, diretor da galeria Baccina 66, que expõe cerca de trinta quadros do ex-mafioso.

Nos seus quadros de estilo ingênuo, é perceptível a visão nostálgica do pintor por Palermo, com cores vibrantes e belas casas de tijolo. No fundo, é comum ver o Monte Pellegrino, paisagem familiar de sua infância no bairro de Partanna-Mondello.

Mutolo hoje vive num lugar secreto, em regime de proteção especial concedido aos "arrependidos" da máfia.

"Essa forte policromia, as cores vivas e alegres, muito claras, são um contraste com sua vida atual. Isso corresponde a um sonho, ao que ele vê dentro dele mesmo", explicou Dionisi, informando que Mutolo se inspira na "terra onde ele nasceu, onde viveu, que ele amou e que ele nunca mais verá".

Mutolo começou a pintar em 1983 enquanto cumpria longa pena na prisão de segurança máxima de Florença. Ele explicou, em raras entrevistas, que pintava inicialmente "para escapar do tédio, porque os dias passavam muito lentamente", e que aprendeu a pintar examinando a técnica de um outro prisioneiro, chamado Aragonese, condenado a prisão perpétua pelo assassinato da esposa.

A exposição é apenas a terceira de Mutolo em 30 anos de atividade.

"Mutolo tem um estilo 'ingênuo' mas tem uma capacidade de composição extraordinária que aumentou com o tempo", disse à AFP o crítico de arte Fulvio Abbate. De acordo com o especialista, "seus quadros são muito bonitos. O fato de ele ser um ex-mafioso não tem nada a ver com a percepção que se pode ter de seu talento".

Mutolo, artista prolífico, com telas vendidas entre 400 e 1.300 euros, não limita sua inspiração à Sicília e trabalha no momento numa nova série chamada "Paisagens e flores". Suas obras fazem sucesso entre apaixonados pela arte e entre seus ex-correligionários: "Não há um ex-mafioso que não possua um de seus quadros", declarou Dionisi.

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