Exposição de Yara Tupynambá abre com pompas novo espaço de galeria em BH

Bernardo Almeida
11/06/2019 às 09:26.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:03
 (Tina Carvalhães / Divulgação)

(Tina Carvalhães / Divulgação)

O objetivo não é fazer uma retrospectiva, mas não dá para fugir das mais de seis décadas da trajetória da artista plástica mineira Yara Tupynambá na exposição “Yara Tupynambá – Uma vida na arte – Obras de 1957 a 2019”, aberta ao público na Errol Flynn Galeria de Arte até 5 de julho. Assim define o curador da exposição, Errol Flynn Junior. 

Quem comparecer ao novo espaço da galeria poderá observar as obras que englobam diferentes fases da artista, desde o painel Ouro Preto, de 1957, até três novas séries de quadros, inéditas para o público, produzidas entre 2017 e 2019. 

Segundo Errol Flynn Junior, uma oportunidade para ver a progressão da artista. “Os primeiros trabalhos dela têm traços da influência de Guignard e Goeldi, depois ela vai encontrando o próprio caminho”, explica Errol, que ainda observa um caráter cíclico no acervo. “Ela começou os estudos no Parque Municipal e uma das últimas séries retrata quatro parques de Belo Horizonte, entre eles justamente o Municipal”.  

A entrada da galeria já brinda o visitante com o imponente painel de 1995 Os Quatro Cavaleiros do Apocalypse, que impacta tanto pelos 2 metros de altura e 1,90 de largura quanto pelo tema: guerra, fome, peste e inveja, que Yara Tupynambá acredita permanecerem atuais. Ainda de acordo com ela, a nova galeria permite uma melhor percepção de seu trabalho. “O espaço é maravilhoso, grande, com o pé direito alto que permite uma visão mais agradável dos quadros, próprio para exposição”.

Mudanças

Aos 87 anos, Yara recebe bem as mudanças que o tempo trouxe para a arte, sempre com um estilo que prima pelos detalhes e demanda mais entrega física. “Meus quadros são muito elaborados, cada um tem pelo menos quatro camadas de tinta. Não sou uma pintora de impulso, sou construtivista.

Hoje já não tenho mais força física para fazer painéis como antigamente. Então passei por uma mudança de proporção, mas não de técnica: continuo pintando cada vez melhor”, salienta.

Além de Guignard e Goeldi estarem presentes nas obras pelo estilo que incorpora influências, há também tributos a outros mestres da pintura, como Matisse, Klimt e Gauguin e Dona Isabel. “Pego elementos de quadros importantes desses artistas e insiro nas minhas pinturas. É como se eu os recebesse em minha casa”. 

Ela observa um elemento que distingue os bons trabalhos das obras que deixam a desejar nas novas gerações de artistas plásticos em BH e no Brasil. “Acho que de maneira geral falta aos estudantes de arte um elemento que chamo de ‘cultura’. Não os vejo lendo Eça de Queiroz, Machado de Assis, e não existe uma obra sem um mergulho na cultura geral. Todos temos que ter base na literatura, na história, sair do nosso mundinho, como o renascentista Botticelli que trabalhou na cultura grega ou Michelangelo na anatomia. A base da arte se dá por talento, trabalho e cultura”.

Do útil ao agradável

O curador e a artista mantêm uma amizade desde o início da galeria Errol Flynn, em 2000. Apesar de comemorarem a oportunidade de o lançamento da exposição marcar a inauguração do novo endereço, Errol Flynn Junior garante tratar-se de um fortuito acaso. 

“Nós definimos que sediaríamos a exposição há dois anos, mas jamais podíamos imaginar que fosse coincidir justamente com o momento de abertura da nova galeria”.
 Tina Carvalhães / Divulgação

Parque Municipal virou paisagem para a artista após espaço abrigar aulas dela com Guignard 


Catálogo e visita guiada completam programação 

Além da exposição, também está sendo lançado um catálogo-livro da mostra com imagens das obras e textos dos críticos de arte Carlos Perktold, Enock Sacramento e Olívio Tavares de Araújo. Este material está sendo comercializado na galeria e, segundo a curadoria da exposição, foi enviado para mais de cem galerias Brasil afora. 

É que, além de celebrar a carreira e o trabalho da artista plástica nascida em Montes Claros, na região Norte de Minas, a galeria Errol Flynn também pretende utilizar da exposição para ampliar o reconhecimento de Yara Tupynambá além das fronteiras do Estado e destacar feitos notáveis da artista, como o fato de sete dos murais dela terem sido tombados em 2009 pelo Patrimônio Histórico e Artístico de Belo Horizonte. 

“A obra dela tem um apelo social muito grande. Ela valoriza os costumes e os folclores de Minas. É impossível falar de arte em Minas sem falar em Yara Tupynambá”, enaltece Errol Flynn Junior, que destaca a humildade da artista. “Ela é uma pessoa muito simples, sempre muito acessível”, salienta. 

Yara Tupynambá atribui a temática regionalista, que trata desde o carregador de gás das áreas rurais até Marília de Dirceu, a um pensamento do romancista russo Liev Tolstói. “Sempre parto daquele princípio de Tolstói de que para ser universal é preciso começar a pintar a própria aldeia”, diz.

Anfitriã

Em meio às quatro semanas de exposição, a própria Yara Tupynambá conduzirá uma visita guiada pelo local em 25 de junho, às 19h30, contando um pouco da história de cada obra e o processo dela.

“A ideia é mostrar os caminhos que levaram a essas obras. A primeira coisa que eu gostaria de passar para o público é que um artista trabalha ao longo da vida. A arte não tem pressa, exige um tempo grande de maturação”.

SERVIÇO:
Exposição Yara Tupynambá – Uma vida na arte – Obras de 1957 a 2019Período expositivo: De 11 de junho a 5 de julho de 2019 (visita guiada em 25 de junho)Errol Flynn Galeria de Arte (R. Curitiba, 1.862 - Lourdes)Entrada gratuitaValor do catálogo-livro: R$ 50

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