Exposição mostra que as redes representam muito mais do que descanso

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 11/03/2020 às 08:42.Atualizado em 27/10/2021 às 02:54.
 (Divulgação)
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Quando resolveu pesquisar a rede (de descanso, é bom deixar claro) para uma tese de doutorado, Raphael Fonseca viveu uma grande descoberta. “Não sabia que tinha sido criada na América Latina. Mais: não sabia que era uma invenção indígena, dos povos ameríndios”, registra o curador da exposição “Vaivém”, que será aberta hoje no CCBB-BH.

Na verdade, as redes não eram um lugar para “descansar”, como explica Fonseca. “Não havia, naquela época, a noção de trabalho como temos hoje, num olhar capitalista e cristão, em que devemos cumprir um horário. Antigamente, a rede era um lugar de convivência, onde você comia, fazia sexo e também dormia”, assinala.

Na exposição, que ficará em cartaz até 18 de maio, Fonseca não faz um inventário dos tipos de rede e de sua feitura. O conceito é buscar a iconografia das redes nas artes, como uma forma de discutir a brasilidade. “A partir deste material, formado por fotos, vídeos, pinturas e artes digitais, vamos encontrar maneiras de ler e problematizar o Brasil”.

Indígenas

Entre as 340 obras, destacam-se Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Tunga, Helio Oiticica e Ernesto Neto. Também estão presentes 32 trabalhos de artistas indígenas, que representaram para o curador um grande aprendizado. “Com eles aprendi formas de ver o mundo, sobre o que é imagem e como se comunicar de forma não-verbal”. 

Com trabalhos que vão do século 16 à contemporaneidade, ele observa que não dividiu a mostra de uma maneira cronológica, mas sim por tópicos. “É uma grande salada, com uma variedade de vozes num mesmo espaço, perfazendo um ziguezague”, registra Fonseca, que esteve ontem em Belo Horizonte para uma visita guiada para jornalistas.

Para o público, a exposição apontará para várias ideias de brasilidade. “A ideia de ócio, em que a rede é geralmente associada, e a maneira como colhe o corpo da gente depende muito de quem profere o discurso, podendo ganhar uma leitura preconceituosa. Assim como outros objetos, ela é muito adaptável, podendo ser algo construtivo ou destrutivo”.
 

Para quem quiser conhecer com maior profundidade a história iconográfica das redes, o curador Raphael Fonseca dará palestra nesta quarta-feira (11), às 20h, no teatro II do CCBB

Serviço
Exposição “Vaivém” – A partir de hoje, no CCBB (Praça da Liberdade, 450). De quarta a segunda, de 10h às 22h. Entrada franca. 

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