Exposição 'Murro' destaca a participação feminina no grafite

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
13/08/2018 às 18:57.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:54
 (THAMIRIS REZENDE/PALÁCIO DAS ARTES/DIVULGAÇÃO)

(THAMIRIS REZENDE/PALÁCIO DAS ARTES/DIVULGAÇÃO)

Joana Ziller e Wanatta Rodrigues são “vizinhas de parede”. E não foi algo combinado, por serem as duas únicas mulheres de um grupo de sete grafiteiros convidados a participar da exposição “Murro”, com abertura hoje na Galeria Arlinda Corrêa Lima do Palácio das Artes. A reunião destes artistas faz parte do programa “Arteminas”, que acentuará, até outubro, a força da arte como manifesto. Tanto Joana, que adota o nome artístico de Mujer em seus trabalhos, quanto Wanatta levam para os muros da cidade – e agora para um espaço expositivo – as questões que envolvem a mulher na sociedade atual, fazendo do spray uma ferramenta de conscientização social na exposição, junto aos trabalhos de Denis Leroy, Hyper, Goma, Gud e Sérgio Ilídio. 

A ideia é possibilitar uma relação diferente com uma prática artística marcada pelas relações urbanas de velocidade e efemeridade

 O tema abordado por Joana é uma resposta a uma afirmação frequente sobre “as mulheres não mandarem tão bem quanto os homens” neste tipo de arte. “Por acharem isso, as oportunidades não aparecem e vira um bola de neve, sem podermos apresentar e evoluir”, observa. “Cheguei aqui (no sábado) meio sem saber o que fazer e depois resolvi mostrar, em cima do que venho trabalhando, duas faces de uma mesma mulher, sendo a segunda aquela que dizem como você deve ser, o que não é capaz de fazer”, afirma Joana, que grafita há dois anos. O pseudônimo surgiu, por sinal, desta necessidade de visibilidade, já que, mesmo após desenhar uma mulher na parede, as pessoas continuam achando se tratar de um autor homem. “Pôr a palavra mulher na assinatura foi uma maneira de me afirmar”, assinala. Além de estarem lado a lado na sala do Palácio das Artes, Joanna e Wanatta compartilham, coincidentemente, de um ponto de partida. Wanatta também exibe dois rostos – a diferença é que pertencem a um homem e a uma mulher e são negros, questão marcante nas obras dela. PALÁCIO DAS ARTES/DIVULGAÇÃO / N/A

Wanatta: "Eu, como mulher, negra, lésbica e de periferia, seria impossível não falar de questões são muito próximas a mim" Função social“A arte de rua tem uma função social muito forte, às vezes de forma até inconsciente, reverberando o nosso tempo. Sendo mulher, negra, lésbica e de periferia, seria impossível não falar de questões que são muito próximas a mim. É preciso dar esse grito”, analisa Wanatta. Ela registra que a participação de mulheres cresceu nos últimos anos, assim como a busca de identidade pelo público. “Quando eu vejo mulheres, principalmente negras, vindo aqui para ver meu trabalho, sinto que elas se sentem representadas. Não só elas como os meninos periféricos também”. Ao trabalhar com muita cor, Wanatta enxerga um trocadilho em relação ao chamado homem de cor. “O que busco é um sentimento de resistência. Ao usar tanta cor, a pessoa se sente obrigada a olhar para a imagem. Ela olha para essa questão de uma forma que não está acostumada. Serviço: “Murro” – De hoje a 28 de outubro, na Galeria Arlinda Corrêa Lima do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 737). De terça a sábado, das 9h às 21h; domingo, das 16h às 21h. Entrada franca.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por