Exposição no Café com Letras do CCBB BH mostra o lado divertido das placas

Elemara Duarte - Hoje em Dia
05/05/2015 às 08:36.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:54
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

É preciso estar atento! Algumas placas podem levar a lugares inesperados. Em outra hipótese, menos dolorosa, digamos assim, garantir uma boa gargalhada. É neste caso que as expostas no Café com Letras do Centro Cultural Banco do Brasil BH se enquadram. “Implacáveis”, título da iniciativa, reúne peças do “objeteiro” Antônio Carlos Figueiredo. Entre os destaques, placas feitas para profissionais liberais – geralmente escritas por eles mesmos.

"Esta espontaneidade é o que me encanta”, diz Figueiredo, que, quando vislumbra uma placa que mereça entrar no seu acervo, vai até o proprietário, negocia e compra. Nunca são valores “pecuniários”. “O valor é na medida do ineditismo”, avisa.

“Não vivo disso, mas não posso viver sem isso”, diz uma placa. Ou: “Cão bravo. Morde dia e noite. Avisei”. Antônio Carlos lembra: “Vi no bairro Jardim América. Toquei a campainha, disse que tinha gostado da placa. Ele emburrou, pois tinha consciência que não tinha escrito dentro do vernáculo ideal”. Questionado, Figueiredo disse que tinha um canil.

Placas e demais objetos que ele conserva em um galpão são resgatados em viagens feitas meio sem rumo. “Já estou na fase em que pego ônibus sem olhar a placa. Vem um ônibus, entro e vou. Onde a minha intuição mandar, vou apear e saio garimpando. É easy rider. Sem destino”.

O chamado “Museu do Cotidiano”, o grande projeto da vida de Figueiredo, já atende o público, com hora marcada, na rua Bernardo Guimarães, 1.296 (contato: matizarteobjeto@hotmail.com)

Na dúvida, peça ajuda

O revisor de textos, escritor e tradutor Luiz Andrada é um “caça-erros” de placas – mas por hobby. Às vezes, o ataque à “língua pátria” é tão absurdo que ele fotografa. Assim, tem a depiladora de “virília” ou a farmácia aberta “aos domingo. “São erros cada vez mais frequentes porque, no Brasil, há pouco incentivo à leitura”, justifica.

Andrada ainda não se arriscou a corrigir os lapsos. Porém, dá uma dica simples para quem quer compor autonomamente uma plaquinha, mesmo sem o auxílio de um redator profissional. “Redija com a ajuda dos muitos dicionários disponíveis na internet, e, antes da versão final, peça a algumas pessoas que leiam”. Simples assim.

Página no Facebook coleciona centenas de visualizações

A artista plástica Carolina Cordeiro, por sua vez, por exemplo, fez fotos de placas enferrujadas ou empoeiradas pela terra vermelha das estradas de Minas, que podem ser acessadas no cordeirocarolina.tumblr.com/campocego. O projeto “Campo Cego” – pois as informações das placas não levavam a lugar algum –, de 2008, flagra a relação destes objetos com o tempo.

A “placamania” também dá as coordenadas em um perfil criado por um radialista de Ervália, Zona da Mata. Em “Placas Engraçadas”, Renato Jeron já conseguiu até 100 mil views ou 400 compartilhamentos em apenas um post no Facebook. E o que ele fez para tal feito? O mínimo. Criou o perfil e começou a postar fotos de placas engraçadas que recebia de amigos. Tudo de brincadeira. Hoje, reúne quase 70 mil curtidores leais. “Criei o perfil há dois anos só para fazer as pessoas felizes”, minimiza. A partir de uma placa engraçada e cheia de erros de português em uma sapataria, Jeron começou a observar com mais dedicação estes objetos. “Mas ninguém zoava o dono: ele era meio bravo”, lembra.

Jeron abastece o perfil com ajuda do conterrâneo Márcio Nicácio, mas ainda não viu lucro com a iniciativa. “Tem muito compartilhamento. É uma troca boa”.

Neon ou LED?

Populares até os anos 1990, as cinematográficas e dinâmicas placas de neón andam perdendo espaço para as de LED, mais baratas, econômicas, duráveis e, segundo Vinícius Porto, sócio-proprietário da A’angaa Comunicação Visual, mais seguras. Uma alternativa, diz, vem sendo testada: é o chamado “falso neón”, um tubo moldável e que possui luzes LED. Outra ideia é moldar desenhos ou letras com resina líquida em formas e colocar o LED na base. Os tubos de vidro coloridos e moldáveis com o gás de neón têm por reino a badalada Las Vegas, que guarda o Museu do Neón (neonmuseum.org), construído em um rancho desértico.

Nele, são dispostas, em longas alamedas, placas como trevos-da-sorte gigantes, descartados por cassinos. Placas de boates, hotéis e motéis completam a coleção. Tudo em neón, e onde os enganos na escrita não são o foco.

Mas, sim, o neón tem sido ressuscitado na decoração. Virou cult, aliás.

Sobre os erros e escorregões nas placas que fez ao longo da vida, Porto não comenta – afinal, a “revisão” do texto é por conta do cliente. Mas uma curiosidade ele resgata: “Já fizemos muito coração com seta em neón para placa de motel”
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por