(Carlos Rhienck)
Assim como ocorreu com seu primo mais velho, o cinema, a videoarte brasileira também sofre com a memória cultural de curto prazo. As primeiras obras do formato, próximas de apagar 40 velinhas, só agora estão passando por um processo de recuperação.
Uma das primeiras instituições a investir na preservação, o Itaú Cultural apresenta, a partir desta quinta-feira (22), na galeria Alberto da Veiga Guignard do Palácio das Artes, onze dos 14 trabalhos adquiridos desde maio de 2011.
Desaparecimento
Vários deles receberam um upgrade tecnológico, já que o suporte é o grande "inimigo" dessa arte. "Muitas obras estavam desaparecendo devido ao obsoletismo da tecnologia, como super 8, portapack (primeira câmera portátil de gravação de vídeo), 16 milímetros e VHS", lamenta o curador Roberto Cruz.
"Na medida do possível, buscamos manter os formatos originais, apesar de alguns já não existirem mais. Por isso estamos remasterizando para HD", observa.
O curador salienta a importância de se ter uma matriz digital para preservar o original, ponderando que, numa situação de exposição, projetores e películas não resistem a uma exibição diária de oito horas por dois meses.
O digital permite ainda, de acordo com Cruz, o acesso pelo público de produções pioneiras, que foram pouco exibidas na década de 1970 devido à ditadura militar. "Não havia mercado de difusão e comercialização desses filmes", registra.
Ditadura
"O contexto político e cultural foi pouco favorável para essa produção. As propostas estéticas e conceituais eram muito inovadoras, e os artistas foram totalmente marginalizados, jogados para o limbo histórico", registra.
Os próprios autores deixaram de lado esse material, como Nelson Leirner, que abandonou numa prateleira da geladeira de casa os rolos de "Homenagem a Steinberg – Variações sobre um tema de Steinberg: As Máscaras Nº 1", de 1975, uma das mais antigas do acervo do Itaú Cultural.
Outros pioneiros que terão trabalhos expostos são Ana Bella Geiger ("Passagens I"), Letícia Parente ("Marca Registrada") e Regina Silveira ("A Arte de Desenhar"). Do boom mineiro no segmento, a partir dos anos de 1980, comparecem Eder Santos e Cao Guimarães.
Cinema
Produzido em 2009, "Cinema", de Santos (o nome mais difundido dos atuais realizadores), é um curta que reutiliza imagens captadas por André Hallak, Daniel Toledo, Thiago Herdy e Leandro Aragão para o documentário "O Nome é a Última Coisa Que se Escolhe".
Entre os trabalhos contemporâneos, Cruz assinala que há uma proximidade com a linguagem cinematográfica. "Embora não tenham uma formação de cinema, esses artistas contemplam uma narrativa clássica. O filme pode não ter início, meio ou fim, mas aponta para o cinema em sua totalidade".
Serviço
Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural – Na galeria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes. Terça a sábado, das 9h30 às 21 horas. Domingo, das 16 às 21 horas. Entrada franca.