Exposição sobre Stanley Kubrick integra Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
29/10/2013 às 08:52.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:43
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

SÃO PAULO – O aviso na entrada da sala desaconselha a presença de "pessoas sensíveis". Vencido o primeiro passo, um longo corredor surge à nossa frente. Parece o andar de um hotel, principalmente pelos números afixados acima de cada porta. Entre elas, está o famoso 237.

Para quem não se lembra, no filme de horror "O Iluminado", lançado em 1980, uma visita ao 237 representou para o personagem de Jack Nicholson e sua família um mergulho num passado trágico, ocorrido no mesmo hotel de que tomam conta, sozinhos, durante a estação de inverno.

Na porta, está uma faixa amarela e preta, proibindo o acesso. Mas ao abrir as outras portas presentes na mostra dedicada ao diretor americano Stanley Kubrick, que seguirá no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, até 12 de janeiro, o visitante terá algumas surpresas, como o machado usado por Nicholson.

É o mesmo objeto que o ator usou durante as filmagens para tentar abrir a porta do banheiro onde sua esposa (Shelley Duvall) se escondeu. Os sons de Duvall gritando como reação aos ataques de Nicholson completam a ambientação. Só faltou o triciclo em que o filho (Danny Lloyd) passeia pelos corredores do hotel.

A exposição, apresentada pela primeira vez na América Latina, em parceria com a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é uma imperdível revisita a uma das obras mais marcantes do cinema, reunindo objetos, fotos e roteiros que atestam a criatividade e preciosismo do realizador inglês.

Cada um dos longas-metragens de Kubrick recebe uma sala própria, seguindo a cronologia de sua filmografia. Roteiros cheios de anotações a caneta, orçamentos e fotos de bastidores formam o material que compõe a primeira parte, dedicada a "Medo e Desejo" (1953), "A Morte passou Perto" (1955) e "O Grande Golpe" (1956).

A ambientação se torna cada vez mais sofisticada à medida que avançamos nos filmes, começando pela produção de guerra "Glória Feita de Sangue" (1957), em que ficamos diante de uma tela que ocupa toda uma parede, na cena em que a câmera acompanha a caminhada do coronel Dax (Kirk Douglas) pela trincheira, em meio a bombas.

Do lado direito, estão vários sacos usados pelos soldados da Primeira Guerra Mundial como barreira. Acima, pinturas como um tríptico do expressionista alemão Otto Dix, chamado "Der Krieg". Em "Spartacus" (1960), saltam aos olhos as grades de onde os gladiadores-prisioneiros vislumbravam a arena do coliseu romano.

"Lolita" (1962) nos mergulha no sensual drama de um professor que fica obcecado por sua enteada. Enormes óculos em forma de coração exibem cenas do filme, enquanto lemos uma carta de Vladimir Nabokov, autor do livro que deu origem à história, comentando as mudanças realizadas no roteiro.

A sala seguinte nos transporta para o quartel-general americano do antibelicista "Dr. Fantástico" (1964), destacando a maquete da mesa oval em que os oficiais discutem amalucadamente o futuro da humanidade, criada por Jörg Kallmeyer, e uma foto de Kubrick escrevendo numa das bombas "It’s there".

"2001", clássico do cineasta, é o grande destaque

"2001 – Uma Odisseia no Espaço" (1968) é a grande sensação da exposição. Não só pelo ambiente que reproduz as paredes brancas do interior da nave desse clássico da ficção científica, mas também por contar com o famoso monolito, a roupa do astronauta vivido por Keir Dullea e o Oscar recebido pelos efeitos especiais.

Lançado em 1971, o espaço de "Laranja Mecânica" também é rico em objetos e detalhes da produção. As paredes negras e as bonecas brancas nuas do bar onde fica a gangue de delinquentes de Alex, o Korov Milk Bar. Na parede ao lado, vários aparelhos antigos de TV amontoados exibem cenas do filme.

Além das roupas de época, desenhadas pela ganhadora do Oscar Milena Canonero, a seção do drama de época "Barry Lyndon" (1975) tem como maior curiosidade uma enorme câmera adaptada pelo próprio Kubrick para poder filmar as (belas) sequên-cias com luz de velas.

Síntese da obra

No caminho para o segundo andar, etapa final da mostra, uma frase do cineasta, reproduzida na parede, parece sintetizar toda a sua obra: "A própria insignificância da vida força o homem a criar seu próprio significado". Na parte de cima, não há quem não deite no beliche do protagonista de "Nascido para Matar" (1987) para tirar uma foto.

Também não há quem não encoste seu rosto nas máscaras da sala de "De Olhos Bem Fechados" (1999), que permitem ver do outro lado da parede. O último longa de Kubrick não é exatamente o ponto final. Roteiros e detalhados estudos encomendados pelo diretor destrincham vários de seus projetos, como "Napoleão" e "Aryan Papers".


Serviço

"Stanley Kubrick" – No Museu da Imagem e do Som. De terça a sexta, das 12 às 20 horas; sábados, das 10 às 21 horas; domingos e feriados, das 11 às 19 horas. Ingressos: R$ 10 (na terça, gratuito). Até 12 de janeiro.

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