Expressões usadas no nosso dia a dia têm origens muitas vezes curiosas

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
27/11/2016 às 15:06.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:50

É melhor não “chegar de mãos abanando” e nem dar um “presente de grego” para depois ninguém ficar “chorando as pitangas” ou ficar “com a pá virada”. “Com o perdão do trocadilho”, quem nunca ouviu alguma dessas frases que “atire a primeira pedra”. Apesar de terem sido incorporadas ao vocabulário brasileiro há décadas ou, em vários casos, até mesmo há séculos, você já se pegou pensando sobre qual é a origem dessas expressões?

Ainda que se saiba empregá-las no sentido correto, dá para ficar com o “queixo caído” ao notar como algumas delas nasceram. Como observa o jornalista Marcelo Duarte, autor da série “O Guia dos Curiosos” (Editoria Panda Books), existem, por exemplo, termos vindos meramente de erros de interpretação.

Está aí “cuspido e escarrado”, usada para indicar semelhança entre pessoas, para comprovar a tese. “A expressão veio de ‘esculpido em carrara’, porque Michelangelo tinha uma obra de arte perfeita e sempre usava o mármore carrara para esculpir”, explica. 

Influência externa

A época de colonização do Brasil também “deu caldo”. Afinal, quem nunca quis mandar alguém para o “quinto dos infernos”? Pois é. A culpa é de Portugal. “O imposto cobrado por Portugal do ouro extraído no Brasil era chamado de ‘quinto’. As pessoas tinham ódio do quinto e o chamavam de ‘quinto dos infernos’”, esclarece Duarte.

Traduções provenientes do latim, como “é tudo farinha do mesmo saco”; da Grécia, como “lobo em pele de cordeiro”; ou ainda da Roma Antiga, como “comer com os olhos”, são outros exemplos de como a língua portuguesa foi influenciada por outros povos. 

Vários termos têm origem na escravidão, como “encher o bucho”, que se refere a escravos que só podiam comer após encher o bucho: buraco na parede da mina onde se guardava o ouro achado

 Na arte
As artes também não ficam de fora. Quando alguém parece ingênuo e enxerga o mundo todo “cor-de-rosa”, se diz que é uma “Pollyanna”. Esse é o nome do livro de Eleanor H. Porter, lançado em 1913, sobre uma menina que possui essas características. E, se uma pessoa tem uma difícil decisão a ser tomada, é dito que será uma “escolha de Sofia” – termo vindo do filme homônimo de 1982, no qual a protagonista polonesa (Meryl Streep) tem que escolher salvar apenas um de seus filhos da execução durante o período nazista.

Com a web é mais fácil criar modismos, mas entrar de vez no vocabulário "são outros 500"

Será que existe um “pulo do gato”, isto é, uma fórmula ou segredo para que uma expressão se torne popular ao ponto de perdurar por séculos na língua de um povo? Duarte acredita que não. “Muitas vezes nem sabemos a origem. Então, é como uma marca, que, com o tempo, vai se acostumando”, diz.

Nos dias de hoje, por causa do vasto conteúdo publicado e replicado na internet, fica ainda mais complicado apostar no que vai irá permanecer no vocabulário. 

Para o jornalista, os termos popularizados a nível nacional são os que têm mais chance de persistir. “Tem coisa que é de um nicho pequeno de pessoas ou estado. Se aquilo não se espalhar, acaba ficando apenas naquele lugar”, pontua Duarte.

Além disso, ele lembra que muitas coisas ditas nas décadas passadas, como “brotinho”, por exemplo, caíram em desuso. O mesmo pode acontecer no futuro com algo que é usual atualmente. 

“O tempo é que vai mostrar de fato se aquela expressão foi passageira ou não”, frisa o autor, que lançará em 2017 mais um livro para a série “O Guia dos Curiosos”, dessa vez sobre curiosidades a respeito das datas comemorativas.

A web vem ditando o vocabulário das pessoas. Veja algumas expressões que se tornaram conhecidas por meio da rede:

“Já acabou, Jéssica?”: O vídeo de uma briga entre duas garotas adolescentes fez sucesso na web em 2015, no qual uma delas, após apanhar da colega de escola, solta a frase.

“Se isso é estar na pior, pôrrã!”: A expressão é de Luisa Marilac, que aparece em sua casa na Espanha, no vídeo “bons drinks”. A travesti faz a afirmação em resposta às pessoas que disseram que ela estava na pior.

“Que deselegante!”: Em 2011, a apresentadora Sandra Annenberg disse a frase, na Rede Globo, depois de ver a colega Monalisa Perrone ser empurrada por três homens durante uma passagem para a TV ao vivo.

“Hoje é dia de rock, bebê”: A autoria da frase é da a atriz Christiane Torloni, que fez a afirmação durante uma entrevista concedida ao Multishow no Rock in Rio de 2011.

“Aham, Cláudia, senta lá”: Um programa bem antigo da apresentadora Xuxa veio à tona por meio da web. No vídeo, ela aparenta estar nervosa com as crianças que não a obedece, até que ela se volta para uma menina e diz: “Aham, Cláudia, senta lá”.
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