Fagner: passado ou futuro?

Elemara Duarte - Hoje em Dia
01/07/2014 às 08:46.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:12
 (Leo Aversa)

(Leo Aversa)

Depois da Copa, o cantor e compositor Fagner vai explicar para o Brasil qual é a sua relação com o senhor de nome tipicamente árabe cuja imagem em P&B aparece nesta página. Também após o Mundial, ele vai esmiuçar, num CD/DVD, a amizade musical de anos com seu vizinho, Zé Ramalho. Mas enquanto isso, ainda na Copa, o artista cearense lança seu 37º disco de carreira, “Pássaros Urbanos” (Sony Music).   É inspiração que não se esgota no alto dos 64 anos do músico. “Sou muito inquieto. O próprio trabalho com o Baleiro (Zeca Baleiro, no disco gravado em 2003) era uma dessas buscas”, compara.    O trabalho com Zé Ramalho vinha sendo adiado, para que ambos encontrassem uma maneira mais criativa para fazê-lo acontecer. “É para que não fosse simplesmente um encontro para se refazer coisas”, explica o cuidadoso músico.   “Pássaros Urbanos”, o disco da hora, tem produção de Michael Sullivan, que também assina duas canções: “Arranha-Céu” (em parceria com Fausto Nilo) e “Tanto Faz” (com Anayle Lima).   Fagner assina outras cinco faixas, entre elas, “Samba Nordestino”, juntamente com Zeca Baleiro: “Meu samba/ Ele não vem lá do morro/ nem sai do apartamento/ do Leblon ou de Ipanema/ Meu samba vem do seio de Iracema/ do coração de Elino/ Gordurinha e Gonzaga”.   E o Nordeste ainda lhe inspira? “Muito. Vivo praticamente lá. Mas nós, que temos um pé lá outro aqui (no sudeste do país), temos que fazer esta ponte. Além disso, muitos de meus parceiros também são nordestinos”, pontua Fagner.   “Paralelas”, um dos perfeitos “clássicos” de Belchior, aparece na sexta faixa do disco, pela voz de Fagner. Os músicos são parceiros em diversas canções, inclusive, no primeiro sucesso de Fagner, por meio da canção “Mucuripe” (1972), que, na época, foi interpretada por Elis Regina (1945-1982).   Belchior tem sido motivo para notícias em todo país, por causa do suposto “paradeiro”. Amigos de longa data não sabem por quais bandas aquele que é um dos maiores compositores da MPB está, no momento. Fagner, muito menos.   “Não tenho contato com ele. As músicas nossas foram feitas muito, muito lá atrás. Depois que viemos ‘pra’ cá, fizemos pouca coisa. Essa história de que ele está meio sumido, razões são várias. Eu não sei também qual é a mais certa”, informa.   “Paralelas”, Fagner diz que canta há muitos anos. “Há pouco tempo, fiz um programa de rádio e a cantei. E tocou muito na emissora. Pensei: ‘Já deveria ter gravado’. Resolvi (a questão) neste disco”.   O CD novo ainda faz uma espécie de “anúncio” para um dos próximos trabalhos do artista natural do município de Orós. Isso por meio de um grafismo no próprio disco. “É meu nome em árabe”, diz ele. Taí uma pista para explicar a foto acima.      Minientrevista - Fagner, cantor e compositor   Há uma inscrição no próprio disco “Pássaros Urbanos”. O que quer dizer?   É meu nome em árabe (imagem ao lado). Meu pai era libanês, de Beirute. Ele era cantor de rádio no Líbano. Passei a vida toda com isso dentro de mim. Mas a história do meu pai é muito trágica.   Trágica? Como assim?   Meu avô veio para o Brasil primeiro. Gostou do Ceará, depois foi buscar meu pai e, então, meu avô foi fuzilado lá, o assassinaram. Meu pai acordava à noite com pesadelos. Chegou aqui aos 19 anos. Ele tinha trauma, pois não queria voltar mais para lá. Por isso também nunca fui. Mas estou voltando para lá.   Eles conhecem seu trabalho?   Está havendo uma mobilização do povo do Líbano. Recentemente fizeram uma matéria comigo lá. E estou ouvindo as músicas da região. Eles mandam material. Vamos misturar árabe e português no outro disco.   Mas o que a cultura nordestina tem em comum com a árabe, libanesa?   Tenho ouvido muitos artistas de lá, são muito alegres, modernos, a emoção deles não se perde com a qualidade técnica. São coisas que a gente pode trazer para cá. Estou pegando o Zeca (Baleiro) para trabalhar comigo, pois ele é filho de libaneses também. Estou pensando... A gente pode fazer algo muito interessante.      Saiba mais   O “Mundo Árabe” abrange o norte da África, a Península Arábica e o nordeste do oceano Índico. Além do Líbano, mais 21 países integram a região, na qual o idioma árabe e o islamismo predominam.   Michael Sullivan, produtor de “Pássaros Urbanos”, é o compositor da canção “Deslizes”. Gravada por Fagner em 1988, ela é um dos hits da carreira do músico.   “Meu pai, quando veio para o Brasil, ainda professava a fé islâmica. Depois, casou-se com minha mãe, uma brasileira do Ceará, e converteu-se ao catolicismo”. (Fagner)   ...Então o seu coração além de cearense, carioca e libanês é um pouquinho mineiro?
“Sempre tive uma relação muito estreita aí. Inaugurei o Mineirinho. Fui eu e Roberto Carlos. Conheço todos os teatros daí” (Fagner)

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