Fernanda Takai experimenta uma diversidade de linguagem em “Na Medida do Impossível”

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
19/03/2014 às 07:08.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:42
 (Divulgação)

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Fernanda Takai sempre teve um jeitinho tímido e singelo ao falar, mas quem já a entrevistou outras vezes percebe que, neste momento, a meiguice ganha tom de empolgação. E não poderia ser diferente. No recém-lançado “Na Medida do Impossível” (Deck/Natura Musical), a artista colocou seu dedo em todo os mínimos detalhes do processo – da escolha dos músicos à capa. Uma amplitude que não havia experimentado nos outros três trabalhos da carreira solo.

Foi ela quem escolheu o repertório, buscou as participações de peso, deu pitaco na diversidade sonora. “Assumo todas a responsabilidade pelos acertos e erros. É um disco que realmente me deixou muito feliz”, afirma a integrante do Pato Fu. “Na Medida do Impossível” começou a ser planejado no início do ano passado – com gravações em Belo Horizonte entre setembro e dezembro –, mas já passeava pela mente de Fernanda há tempo. O resultado nasceu do desejo da artista de fazer um disco cantando com pessoas que sempre admirou.

Seus convidados são tão diversos quanto o disco se propõe ser: Zélia Duncan (“Mon Amour Meu Bem Ma Femme”, de Reginaldo Rossi), Samuel Rosa (“Pra Curar Essa Dor”, versão do maridão e produtor John Ulhoa para “Heal the Pain”, de George Michael) e Padre Fabio de Melo (em “Amar como Jesus amou”, de Padre Zezinho, que ganhou versão eletrônica do japonês Toshiyuki Yasuda).

As parcerias também foram poderosas: Pitty (“Seu Tipo”), Marina Lima e Climério Ferreira (“Quase Desatento”) e Marcelo Bonfá (“De um Jeito ou de Outro”).

“Quando mostrei o que queria ao John, ele disse que seria muito difícil, com tantos convidados e parcerias. Mas quando comecei a fazer mesmo, vi que estava fazendo um disco interessante por conta da diversidade de elementos e por tantos encontros inéditos que surgiram no processo”, conta.

"Pop é a palavra-chave do disco"

Fernanda Takai acredita que, ao ouvir “Na Medida do Impossível”, fica ainda mais claro quais foram as suas contribuições para o Pato Fu. “Sempre gostei de arranjos pop e suaves, e essa sempre foi a minha função na banda. O lado roqueiro do Pato Fu sempre ficou com os meninos”, afirma.

O álbum não soa como um trabalho da banda, mas de certa forma dialoga com a história do Pato Fu ao apresentar várias experiências e misturas sonoras que visam a construção de uma música inventiva e de fácil assimilação.

“Pop é a palavra-chave do disco. Tudo foi escolhido para entrar em um formato pop porque essa é a minha especialidade. Quando gosto de uma música, sempre penso em um arranjo para este estilo, mesmo que seja introspectivo ou eletrônico”, explica.

Padres

A tão comentada escolha de convidar o Padre Fabio de Melo para um dueto de um grande sucesso do Padre Zezinho passa por essa experimentação. Especialmente porque o arranjo escolhido é o mais inusitado possível – “parece trilha de joguinho de videogame, como Mario Bros”, define a cantora.

Ela obviamente sabia que o encontro inusitado provocaria comentários nas redes sociais, mas faz questão de dizer que não há oportunismo na escolha. A canção religiosa está dentro do conceito afetivo que “Na Medida do Impossível” ganhou.

“Tinha certeza de que era um convite acertado. Gosto do padre Fabio, gosto do que ele prega e ele canta bem”, diz Fernanda, que gosta de “Amar como Jesus Amou” desde a infância.

“Essa foi uma das primeiras músicas que aprendi no violão. Fiz primeira comunhão com ela. Os meus amigos dos tempos de Loyola (da Pampulha) comentaram: ‘você é danada, gravou uma música que toca desde que era novinha’. Eles sabem que não é oportunismo”.

Não só a música de Padre Zezinho, como também as composições de Benito di Paula e Reginaldo Rossi, podem dar a impressão de que o disco soa brega. Essa comparação poderia incomodar a cantora? “Não tenho problema com a palavra brega, mas entendo que foi historicamente usada de forma desrespeitosa contra muitos artistas da música brasileira. Prefiro dizer que tive influência de um universo extremamente popular”.

Fernanda explica que teve o cuidado de trabalhar as referências populares de uma maneira diferenciada, especialmente para “Mon Amour Meu Bem Ma Femme”, que cantou pela primeira vez com Zélia Duncan em 2011, no Marco Zero, em Recife, durante o Carnaval. Era uma homenagem a Reginaldo Rossi.

“Quando fiz essa música com a Zélia para o disco, quis um arranjo chique, fino, para que as pessoas compreendessem que é uma boa música. É um som que merece ser ouvido e conhecido, independentemente de sua origem popular”, diz a cantora, que nasceu no Amapá em 1971 e veio para Belo Horizonte aos 9 anos.

Fernanda não é fã absoluta dos discos de Reginaldo Rossi, mas afirma ser admiradora de Benito de Paula desde a infância, graças à influência do pai. “Fiquei em dúvida sobre que música gravar. Pensei ainda em ‘Sanfona Branca’ e ‘Proteção às Borboletas”.

Capa foi inspirada em foto realizada em 1885

Até mesmo todo o projeto gráfico de “Na Medida do Impossível” foi pensado por Fernanda Takai. A imagem da capa (que você pode ver ao lado) foi inspirada em uma imagem que ela viu em uma revista, durante um voo, há alguns anos. Ela gostou tanto da foto que rasgou a publicação e guardou a imagem na bolsa.

A imagem em questão é de uma tempestade fotografada pelo japonês Kusakabe Kimbei em 1885. A versão fofa e brasileira de Takai ficou nas mãos de Mariana Hardy.

“Simbolizava a ideia do disco. De uma dona de casa, como eu, que está saindo e tentando ganhar forças para encarar mais responsabilidades, indo atrás de um autoconhecimento”, afirma Fernanda.

E por falar em dona de casa que explora o mundo, dessa vez Fernanda não deve contar com a presença do marido, John Ulhoa, em todos os shows de sua turnê, prevista para ter início depois da Copa. Os cuidados com a educação da filha, Nina (“são tantos para casas”), ficarão mais bem divididos entre o casal. Sua banda está quase pronta, com artistas de Belo Horizonte: Lenis Rino na bateria, Larissa Horta no baixo e Lulu Camargo no teclado.
 

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