Ferreira Gullar volta a BH para participar do "Terças Poéticas"

Pedro Artur - Hoje em Dia
07/04/2014 às 07:55.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:59
 (Hoje em Dia)

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O poeta é menino. E também homem do seu tempo. Assim, é preciso que o coração e a razão andem lado a lado. É com essa mesma vivacidade no escrever e no falar que o poeta Ferreira Gullar, a bordo de seus admiráveis 83 anos, volta à capital mineira para participar do projeto “Terças Poéticas, no qual haverá uma homenagem e reverência ao seu “Poema Sujo”, escrito em 1975, no exílio, na Argentina. O encontro acontece amanhã, a partir das 19h, na Casa Una de Cultura, em Lourdes, com entrada franca.

No “Poema Sujo” está um dos versos mais emblemáticos do também crítico de arte, ensaísta, biógrafo e tradutor maranhense, batizado José Ribamar Ferreira: “combatente clandestino aliado da classe operária meu coração de menino”.

“É claro, é isso mesmo. Quando fiz o poema quis expressar isso. Essa identidade da poesia com a luta pela justiça e o coração de menino. O poeta continua menino, preserva o menino”, conta o poeta, em entrevista ao Hoje em Dia.

O “Poema Sujo” foi escrito em Buenos Aires, durante o exílio imposto pela ditadura militar, implantada em 1º de abril de 1964 (ou no dia 30 de março, como aceito). Na casa do diretor teatral Augusto Boal (1931 – 2009), situada na capital argentina, é lido o poema pelo poeta para um grupo de amigos. Entre eles, o saudoso poetinha Vinícius de Moraes (1913 – 1980), que, tocado, traz uma cópia (do poema) para o Rio de Janeiro. Ênio Silveira, editor, o publica no ano seguinte.

O menino não abandona o poeta. Em momento algum. E não há como fugir, durante a conversa, da letra composta em “Poema Sujo” para a música “Trenzinho do Caipira”, de Heitor Villa-Lobos, com versos de uma beleza linguística e melódica como “Lá vai o trem com o menino lá vai a vida a rodar lá vai a ciranda e destino cidade noite a girar”. 

Então poesia e música são indissociáveis? “Nem sempre, diz Ferreira Gullar. “Não é obrigatório. Alguns poemas são difíceis de musicar, por serem versos livres, também por conta da estrutura e natureza específica do poema com suas rimas e métricas, como alguns casos em Drummond (o mineiro, de Itabira, Carlos Drummond de Andrade, claro), Bandeira (Manuel Bandeira) e mesmo os meus; outros são mais fáceis (de musicar). Ao escrever o poema, me lembrei da música do Villa-Lobos (Heitor Villa-Lobos). Botei o disco na vitrola e comecei a fazer a letra naquela manhã. Em 20 minutos fiz o que não tinha conseguido em 20 anos”, relembra.

Ferreira Gullar diz que, após o livro “Em Alguma Parte Alguma”, que chegou às prateleiras das livrarias em 2010, não voltou mais à poesia. “Nunca mais escrevi poemas desde o último livro. De lá para cá não escrevi mais, e não sei se vou escrever”, relata o poeta, que é apontado, com todo mérito, como um dos maiores da língua portuguesa. 

 

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