Festival Anima Mundi chega a BH e traz mais de 50 produções de vários países

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
11/09/2013 às 11:31.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:52

Dizer que o Oscar poderá ter um sotaque português em 2014 é meia verdade. Apesar de ter nascido em Cabo Verde e morado até os 12 anos em Portugal, Daniel Sousa – diretor do curta-metragem "Feral", cotado para aparecer entre os indicados a melhor animação na premiação – sente mais segurança com o inglês.

"Meu vocabulário é bastante limitado", admite Sousa, destaque da programação da extensão mineira do Anima Mundi, com início amanhã na Praça da Liberdade. O realizador não rejeita perguntas feitas em sua língua pátria, mas prefere respondê-las no idioma da terra onde ele hoje se tornou um dos principais realizadores independentes do mundo.

Por e-mail, de Providence, nos Estados Unidos, o diretor confessa que deve ao Brasil a possibilidade de ganhar um passaporte para o Oscar, após "Feral" (Selvagem, em inglês) vencer o Anima Mundi no mês passado. Mais importante festival da América Latina dedicado ao gênero, ele qualifica o ganhador como pré-candidato.

Não foi o primeiro e possivelmente não será o último troféu que "Feral" recebe. O curta já coleciona prêmios em vários festivais pelo mundo, chamando a atenção para um Walt Disney às avessas. Como o criador de Mickey Mouse, "Dan" se vale da mitologia e dos contos de fada para conceber suas animações.

A diferença está na maneira questionadora e soturna como olha para essas "historinhas de criança". Os seis curtas realizados pelo diretor, a maior parte deles pela produtora Handcranked Film Projects, da qual é um dos fundadores, exibem o interesse num certo lado mais sombrio da humanidade.

"Não é que estou intencionalmente tentando explorar apenas esse lado escuro de nós. No entanto, é importante reconhecer que é uma grande parte de quem somos. Parece haver um equilíbrio natural entre os nossos instintos positivos e negativos e estou tentando ser honesto na representação dessa dialética", observa.

Ele salienta que a mitologia sempre lidou com a complexidade do animal humano, separando todos esses aspectos em arquétipos. "Os contos de fada são mais subversivos, não precisando explicar tudo, mas as mesmas ideias são representadas por símbolos", compara Sousa.

Garoto selvagem

"Feral" acompanha um garoto da selva levado para viver na civilização e busca se adaptar ao novo ambiente usando as mesmas estratégias que o mantiveram seguro na floresta. O ponto de partida é o mesmo que o cineasta francês François Truffaut usou para fazer "O Garoto Selvagem" (1970): a história verídica de Victor de Aveyron.

Victor foi encontrado, ainda criança, na França e adotado pelo educador Jean Marc Gaspard Itard, que não obteve muito sucesso em inseri-lo na civilização. "É um dos relatos mais divulgados sobre crianças selvagens, mas eu olhei para um monte de histórias diferentes e decidi criar a minha própria narrativa".

Sousa registra que, entre os filmes de Truffaut, o que mais provocou impacto em "Feral" foi "Os Incompreendidos" (1959), longa sobre meninos delinquentes. "O final do meu filme é parecido, quando o garoto órfão foge da escola para o mar", detalha.

Técnicas variadas

O diretor cabo-verdiano recorre a várias técnicas, primeiramente esboçando a animação em Flash. "Depois imprimo cada quadro em papel, retraço os desenhos com lápis e digitalizo-os mais uma vez. Eu amo a aparência e sentimento da animação tradicional, mas gosto do imediatismo proporcionado pelo Flash", justifica.

Sousa não faz storyboard de seus projetos. "Eu sempre começo por um fundo visual. Iniciei-me como ilustrador e pintor e ainda penso dessa maneira. Se eu escrever ou fazer um storyboard, sinto que estou desperdiçando um monte de energia criativa fora do processo de animação", explica.

O cineasta não rejeita trabalhos comerciais, como propaganda para TV. "O desafio é descobrir como transmitir uma ideia clara em cerca de 30 segundos. É uma grande lição de comunicação, economia e resolução de problemas. E também uma boa maneira de aprender a trabalhar com equipe e como cumprir prazos".

Mais de 50 animações para adultos e crianças

O Anima Mundi começa na quinta-feira (12) com uma sessão ao ar livre na Praça da Liberdade, com início às 19 horas. A partir de sexta, as exibições serão realizadas no Espaço Oi Futuro, que apresentará mais de 50 animações para adultos e crianças, originárias de vários países.

A versão belo-horizontina também contará com workshops, palestras e oficinas. O convidado de honra é o americano David Daniels, fundador do Bent Image Lab, um estúdio independente premiado e reconhecido.

No sábado (14), às 20 horas, no Oi Futuro, ele participará do "Papo Animado", comentando sua carreira. Daniels também ministrará um worshop no domingo, no Sesc Palladium, sobre o "strata cut", técnica em que imagens se fundem e se transformam em outras, num ritmo frenético.


Serviço

Anima Mundi – Quinta-feira (12), às 19 horas, na Praça da Liberdade. Entrada franca. De sexta até terça, no Oi Futuro (avenida Afonso Pena, 4001), com sessões às 10 horas, 11h30, 14 horas, 16 horas, 18 horas e 20 horas. Ingressos a R$ 8 e R$ 4 (meia). Mais informações no www.animamundi.com.br

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