Festival de Curtas foca a luta política de corpos, espaços e direitos básicos

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
26/09/2017 às 18:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:44
 (FESTCURTAS/DIVULGAÇÃO)

(FESTCURTAS/DIVULGAÇÃO)

A política é o combustível da 19ª edição do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, que começa neste sábado, no Cine Humberto Mauro e na Sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes. Nada a ver, porém, com a política estampada nas manchetes de jornais: o que está em discussão é a política dos corpos e dos territórios, presente na estética e na representação de uma resistência.

Todas as seções do festival apontam para este caminho, que, de acordo com a coordenadora e curadora Ana Siqueira, surgiram de maneira natural, a partir do conjunto de filmes inscritos. “Não foi uma questão de opção nossa. As produções atuais são afetadas por estas questões que inquietam os sujeitos que as fazem, impressas na forma dos filmes”, analisa Siqueira.

A mostra “Atravessamentos do Presente”, por exemplo, relaciona a guerra, a política, o corpo e a memória. “Muitos deles falam de uma macropolítica levada ao cotidiano, como um ucraniano em Nova York que acompanha a guerra em seu país pela internet e os cubanos de meia idade que aprendem inglês, refletindo a retomada das relações diplomáticas”, registra a curadora.

O festival será realizado até o dia 8 de outubro, com a exibição de 151 filmes, além de seminários, oficinas, cursos, mostras temáticas e debates gratuitos. Programação completa em festivaldecurtasbh.com.br/19


Conflitos
Curtas como “Meryem”, “Green Screen Gringo” enfocam países –respectivamente Síria e Brasil– em conflito étnico e político. Já o alemão “Depth of Field” examina três crimes de motivação racial, cometidos entre 2000 e 2005 pelo grupo terrorista de extrema-direita National Socialist Underground (NSU), em Nuremberg, na Alemanha.

A seção que aborda de forma mais direta o campo político leva o nome “Documentário: invenção de formas/pensamento crítico (1964/1983)”. Ela apresenta um raro material organizado por Naara Fotinele, pesquisadora em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais na Université Sorbonne Nouvelle, que reuniu alguns filmes “clandestinos” da época da ditadura no Brasil. Junto a produções conhecidas de Leon Hirszman e João Batista de Andrade, o festival exibirá filmes considerados perdidos pelos próprios realizadores.

“Foi um trabalho de arqueologia. Vários destes filmes estavam na Alemanha, após serem exibidos numa mostra, com suas cópias não retornando ao Brasil”, registra Bruno Hilário, coordenador de cinema no Cine Humberto Mauro.

Este resgate levou os organizadores do Festcurtas a um inédito trabalho de preservação: o curta-metragem “Indústria” (1969), de Ana Carolina, é objeto da primeira remasterização de um filme pelo Palácio das Artes. “Ele praticamente não foi exibido na época e estava fora de circulação”, salienta Siqueira.

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