Filme centra ação nos anos 80, mas traz questões atemporais da adolescência

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
19/12/2015 às 11:22.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:24
 (Divulgação)

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Havia prova maior de amor ou amizade que escolher os vinis e gravar, numa fita k7, as músicas preferidas, faixa a faixa e numa ordem em particular? A apresentadora e cineasta Marina Person foi uma das que ficavam horas sobre sua seleção, como outros adolescentes da década de 80. No seu caso, a lista sempre incluia nomes como David Bowie, New Order e The Cure.

“Gostava muito de fazer a play list, com músicas para várias ocasiões: dor de corno, férias ou para dançar. Se a amiga estava curtindo uma fossa, a gente dava uma fita. E dava um trabalho da conta. Hoje, tudo se tornou impessoal demais, bastando baixar da internet”, diz Marina, que levou para o filme “Califórnia”, em cartaz na cidade (confira roteiro), algumas situações e acontecimentos que caracterizaram o Brasil de três décadas atrás.

Das músicas à indumentária, passando pelo engajamento político dos jovens, que ainda viviam os últimos movimentos da ditadura, o filme registra com fidelidade o espírito da época. Mas Marina garante que não se trata de uma autobiografia. “Há muitas referências a histórias de minha adolescência, mas a história em si não é. Sim, amava o Bowie e me apaixonei por um cara tipo o JM”, registra a realizadora.

JM é, na definição dela, a representação do homem ideal, misterioso e delicado. Outra paixão explícita é a música – mais tarde, o “ganha-pão” de Marina, que foi VJ na MTV. Por sinal, na época em que a trama do filme se localiza, a emissora ainda não tinha chegado ao Brasil. “O mais parecido com isso era ir a uma sala e ver um clipe, projetado a partir de uma fita VHS pirateada”.

A Aids, descoberta no início daquela época, também é um dos temas de “Califórnia”, a partir de um tio da protagonista, vivido por Caio Blat. A doença acabou “marcando” uma geração, em que o sexo passou a ser atrelado à possibilidade de contaminação. É nesse contexto que o primeiro filme de ficção de Marina (antes, assinou um documentário sobre seu pai, o cineasta Luís Sérgio Person) desenvolve um drama sobre o rito de passagem.

Ser adolescente nos eighties era bem diferente dos dias atuais, mas Marina salienta: “Algumas perguntas, a gente faz todos os dias, como qual o nosso lugar no mundo, o que vai acontecer quando for adulto, como me posicionar”. Para a cineasta, esse é o principal elemento de identificação do filme com as plateias jovens, o que foi comprovado pelas sessões de teste antes da estreia.

Estreia adiada
 
Além de dirigir e assinar o roteiro, Marina recorreu a seus objetos pessoais – fotos, vinis, bilhetes de shows – na produção. Outra preocupação da cineasta foi a de não mostrar o sexo na adolescência como algo “anedótico”. “A forma como exibem isso é muito leve, e eu não queria que fosse assim. Queria algo mais realista, que mostrasse a insegurança deles”.

A cineasta está feliz com a sua estreia tardia na ficção. Na verdade, ela foi adiada. Marina estudou cinema e, no momento de começar a atuar nos sets, veio o fim da Embrafilme, com toda a estrutura de produção nacional entrando em colapso. “Aí fui arrumar emprego na MTV. Algum tempo depois, fiz o documentário ‘Person’, que refletia a necessidade de conhecer o meu pai. Na verdade, me vejo mais na ficção do que no documentário”, destaca.
 

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