VENEZA - Mesmo sendo apresentado fora de competição, o novo filme de Paul Schrader, roteirista de "Táxi Driver" (1976) e diretor de "Gigolô Americano" (1980), conseguiu chamar a atenção no Festival de Veneza. Mas não pelas razões certas.
"The Canyons", protagonizado pelo ator de produções pornô James Deen e pela atriz-problema Lindsay Lohan, começou seu dia sendo recebido por gargalhadas fora de hora em sua primeira exibição para a imprensa e membros da indústria cinematográfica no evento.
Já na quinta-feira (29), a produtora High Voltage tinha avisado que a divulgação do filme para a imprensa seria cortada em Veneza, ficando restrita apenas à entrevista coletiva - a presença de Lohan, que saiu da reabilitação há cerca de um mês, era tida como certa.
Mas "La Lohan", como é chamada pela imprensa sensacionalista, fez jus a sua fama de rebelde e não apareceu em Veneza.
Refém
Paul Schrader pegou o microfone e começou um pequeno discurso de abertura: "Hoje, eu sou um homem livre, depois de ter sido mantido refém por 16 meses de uma atriz completamente imprevisível", disse o diretor referindo-se à data em que contratou Lindsay, conhecida mais por bebedeiras, prisões e envolvimento com drogas.
"Ela deveria estar aqui hoje e me prometeu isso, mas não veio. E por essa razão não quero falar sobre sua vida. Posso falar sobre o trabalho de Lindsay como atriz, mas não vou falar sobre seu papel de celebridade."
E foi o que Schrader fez, sendo até complacente com sua estrela, que ele diz ser "um anjo com um lado sombrio". "Lindsay é uma atriz destemida, mas tem problema em fingir, atuar é exaustivo para ela. Por isso, o que você vê em 'The Canyons' é o mais perto possível da verdade. Ela me lembra Marilyn Monroe, não como atriz, mas pela dificuldade de equilibrar a vida pessoal e a profissional."
Lohan filmou "The Canyons", que teve o orçamento de US$ 155 mil levantado por meio do site de financiamento coletivo "Kickstarter", por míseros US$ 100 dólares por dia - foram sete semanas de filmagens. Ela interpreta uma jovem entediada e humilde que se envolve com um playboy (Deen) com desejos sexuais insaciáveis ao ponto de chamar desconhecidos (as) para dividir a cama com a namorada.
Teia de sexo
Essa teia de sexo -Lohan, ao contrário do que foi ventilado há alguns meses, não aparece totalmente nua e não protagoniza cenas pesadas - fica mais emaranhada quando entra em cena um jovem ator (Nolan Gerard Funk) com um passado ligado ao da garota.
"A trama surgiu porque eu estava obcecado por James Deen e seu trabalho", resumiu o roteirista, o escritor Bret Easton Ellis. "Não é um comentário sobre uma nova geração, mas uma atualização do cinema noir."
A pretensão não se cumpriu. "The Canyons" parece um thriller erótico menos sensual que não tem lugar nem mesmo na programação da madrugada do Multishow.
Nas cenas mais tensas, perto do fim, quando o roteiro tem uma pegada psicótica, o filme só gera risos. "Essa reação não é uma surpresa para mim. Meus diálogos foram construídos para reproduzir pessoas artificiais vivendo em um mundo artificial, como se estivessem em uma novela", rebateu Ellis.
"Fizemos um pequeno experimento e virou um evento cultural extremamente criticado", reclamou Schrader.
"Nos compararam a filmes como 'Wolverine'. Nós fizemos o casting, o financiamento e a distribuição pela internet. Fomos direto para vídeo on demand porque ele foi feito para isso. Mas entendo... Tudo tem a ver com o fato de ter Lindsay Lohan no elenco." Pois é.
*Enviado especial