Filme de Costa-Gavras revela os bastidores que fragilizaram ainda mais a economia da Grécia

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
13/08/2021 às 14:59.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:40
 (CALIFÓRNIA/DIVULGAÇÃO)

(CALIFÓRNIA/DIVULGAÇÃO)


É muito raro ver um ministro da economia como protagonista de um filme. Ainda mais no papel de mocinho. Com 'Jogo do Poder', que acaba de estrear, o diretor grego Constantin Costa-Gravas consegue estabelecer uma envolvente (e chocante) narrativa em torno de seguidas e exaustivas reuniões sobre acordos econômicos.

O realizador se ancorou num fato verídico ocorrido há seis anos, quando a Grécia, na maior crise financeira de sua história, bateu de frente com o Fundo Monetário Internacional e bancos europeus, após a esquerda assumir o poder defendendo o não pagamento de juros extorsivos que só aumentavam o desemprego e tiravam as garantias trabalhistas do povo.

Não é difícil escolher um lado – enquanto o ministro Yannis Varoufakis (o longa é baseado em sua autobiografia) fala em pobreza e fome, os seus interlocutores exigem que os compromissos sejam plenamente cumpridos, sem uma vírgula a menos. A força de 'Jogo do Poder' reside aí, escancarando a falta de sensibilidade dos credores.

Com Yannis hábil com as palavras e atento às armadilhas que plantam em seu caminho, o filme se esforça em traduzir uma linguagem dura trocada em enfadonhas conversas de bastidores em intimidação, sem esconder quem manda de verdade na economia mundial, e xenofobia – eles não escondem a imagem preconceituosa que tem da Grécia.

Assim posto, o longa se vale da clássica luta entre Golias e Davi, em que menos forte tenta surpreender o inimigo. Com a experiência de quem já conduzir obras políticas fortes, como 'Z' e 'Missing', Gavras expõe o que o seu título em inglês sugere, de forma sarcástica – na sala de reuniões, não estavam adultos; apenas gente querendo provar que manda mais.

Dentro de um emaranhado de falsidades e trapaças, o veterano cineasta traz um filme vigoroso e reflexivo sem pôr o pé na porta. Ao contrário, ele fecha os seus personagens cada vez mais em salas e lugares claustrofóbicos, como se participassem de algo que poderia ser um jogo de blefes se não estivesse ali o destino de milhões de pessoas. 

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