Filme exibe outro conceito de família; longa ganhou Palma de Ouro em Cannes

Paulo Henrique Silva
10/01/2019 às 07:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:57
 (IMOVISION/DIVULGAÇÃO)

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Em “Assunto de Família”, filme ganhador da Palma de Ouro que estreia nesta quinta (10) nos cinemas, o diretor japonês Hirosaku Kore-eda põe o espectador no meio de uma família improvisada, construída menos por laços de parentesco e mais pela necessidade de não estarem sós.

Em poucos minutos se demove a ideia de que a menina abusada pelos pais biológicos poderia estar em melhor lugar do que ao lado de sua família de adoção, formada por pai e irmão que cometem pequenos delitos e por uma mãe que também exibe folha criminal.

A partir da garota recém-chegada ao núcleo, o cineasta estabelece a contraposição entre a felicidade latente e o medo do espectador de que ela pode ser momentânea, por alguma ação externa, devido à precariedade legal daquele envolvimento.

Aliás, tudo o que envolve aquela família provisória é precário, da casa onde residem aos cortes de cabelo, passando pelo submundo em que transitam. O olhar de Kore-eda é sempre terno, curioso diante deste universo paralelo que se cria à sociedade visível.

Brincadeiras

Mesmo nos momentos mais críticos do filme, quando acontecem os roubos, eles surgem como uma espécie de brincadeira, especialmente pelo jeito infantilizado do pai. E, como nos filmes de assaltos, transparece uma ideia de doce parceria.

A narrativa caminha para a cristalização de cada elemento em seu respectivo papel, em especial o da avó – um generoso guarda-chuva que abriga a todos sob o seu teto, estampando a ideia de que sempre cabe mais um, repartindo o pouco que têm.

E ela chega ao seu ápice na cena em que todos vão para a praia e se confraternizam, diante do olhar de satisfação da avó. A sequência serve como um divisor de águas, como se o efeito ilusório de Cinderela os levasse novamente a serem abóboras.

No movimento seguinte, por mais que fatos vão pondo em dúvida a sanidade e o amor de cada um deles, “Assunto de Família” não perde de vista aquela relação construída com diálogos saborosos, que nos contagiam pelo seu caráter prosaico.

Sonho

Como em seus trabalhos anteriores, entre eles “Depois da Vida” e “Pais e Filhos”, Kore-eda sabe fazer a ponte entre o sonho e a realidade, entre o que se apresenta como certo e o que nos leva a sair do traçado, sempre tendo o mistério como força-motriz.

Mas é com “Ninguém Pode Saber” que o filme se aproxima, na remontagem familiar após a fragmentação do modelo tradicional. Se, no primeiro, a mãe é substituída pela imaginação, no segundo todos os entes estabelecem essa relação fantasiosa.

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