Filme explora amor paterno sem recompensa; 'Meu Querido Filho' estreia em BH

Paulo Henrique Silva
03/01/2019 às 07:00.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:50
 (PANDORA/DIVULGAÇÃO)

(PANDORA/DIVULGAÇÃO)

Durante quase uma hora, o filme tunisiano “Meu Querido Filho”, em cartaz a partir de hoje no Cine Belas Artes, é movido por uma única certeza: o grande amor dos pais por seu filho, centro das atenções de uma família de classe média que não mede esforços para logo vê-lo ingressando na faculdade. O dia a dia deles é regido por esta expectativa, deixando de lado muitas vezes a própria relação marido-mulher.

Tal incômodo passa quase desapercebido, se não fosse por uma amiga do pai, que não tem papas nas línguas e, como um oráculo mundano, parece antecipar um estado de infelicidade latente. Quando um fato inesperado acontece, pegando os pais de surpresa, aquela certeza inicial vira uma grande e terrível dúvida, sobre se tanto amor (ou idealização de vida) abafou desejos verdadeiros.

Solução possível

Não saberemos a resposta. O filme de Mohamed Ben Attia não fecha nada, como se depois de tanta “verdade”, com reiteradas cenas cotidianas, a narrativa reafirmasse que não existem certezas, deixando de persegui-las. A viagem do pai em busca do filho tem este sentido: quase no fim da jornada, ele resolve voltar para casa, pois a única solução possível estava justamente no ponto de origem.

Na sequência final de “Meu Querido Filho”, o pai esboça um sorriso numa mesa entre colegas de trabalho. É o único momento, em todo o filme, que esta reação surge de forma tão espontânea, ampliada pelo registro de Attia, que se detém por vários segundos neste rosto. Há um certo alívio, como se naquele instante o pai estivesse sendo ele mesmo pela primeira vez, algo desaparecido em meio a tanto amor devotado ao filho.

Ponto de vista

Com esta única cena, Attia desmonta de vez a primeira parte do filme, mecânica, fria e superficial. A câmera parece nunca alcançar o que aqueles personagens são.

O longa nos remete imediatamente a “A Amante”, filme anterior de Attia, em que há a discussão entre a tradição estimulada pela mãe e a rebeldia estampada num filho, mas o ponto de vista naquele era do garoto. Agora o pai assume esse antagonismo e também a condução da narrativa, em que precisará reaprender a olhar à sua volta, sem filtros.

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