Filme grego sobre incesto e prostituição choca e é vaiado em Veneza

Rodrigo Salem - Folhapress
01/09/2013 às 14:46.
Atualizado em 20/11/2021 às 21:32

SÃO PAULO - Ser vaiado em um festival de Cinema nem sempre é um mau sinal. "A Árvore da Vida", de Terrence Malick, foi brindado por vaias em Cannes e faturou a Palma de Ouro. O mesmo pode acontecer com o filme grego "Miss Violence", de Alexandros Avranas, apupado por alguns jornalistas em sua primeira sessão no Festival de Veneza, neste domingo (1°).    Mas as razões para as vaias (os aplausos existiram em bom número) transitam mais no campo ético do que no estético em "Miss Violence". O drama é um pesado jogo de dominó sobre incesto e prostituição infantil que vai sendo derrubado até atingir quase o insuportável - o que deve ferir os sentimentos de boa parte do público.    "Miss Violence" começa de forma acachapante: no meio da festa por seu aniversário de 11 anos, a menina Angeliki (Chloe Bolota) pula sem a menor cerimônia da varanda do apartamento. O que vem a seguir é ainda mais estranho. A família parece pouco afetada pelo caso, chegando até mesmo a usá-lo para conseguir certos benefícios ou desculpas por comportamentos erráticos.    Sua mãe, Eleni (Eleni Roussinou), está mais preocupada com seu bebê de pai desconhecido, o avô (Themis Panou) só pensa na educação rígida, quase militar de seus netos pequenos, Alkmini (Kalliopi Zontanou) e Filippos (Konstantinos Athanasiades). A avó (Reni Pittaki) parece inerte a emoções. Apenas a menina do meio, a adolescente Myrto (Sissy Toumasi), parece sentir algo - talvez por ser apenas um pouco mais velha que a irmã morta.    Aos poucos, o véu de normalidade da família vai saindo da frente e a sujeira transborda mostrando como o avô, na verdade, é um gigolô, usando as netas - que podem ser filhas, já que fica explícito que há abuso sexual -, como prostitutas rasas e a mulher como saco de pancadas.    O filme choca mais pelo tratamento do velho em assuntos banais humilhantes do que em sequências gráficas que revelam seu segredo. Em determinado momento, ao ouvir que o neto seria um pouco agressivo na escola, ele obriga o menino a levar uma dezena de tapas da irmã sem reagir.    Alexandros Avranas traça um paralelo entre a família e a crise financeira da Grécia. Há doses fartas de críticas sociais, apesar do cineasta negar. "Não é uma metáfora, mas um símbolo de uma sociedade moderna doente. O filme tem um grande respeito pelos seres humanos, que parecem ser esquecidos numa crise que vai além da econômica, mas moral", conta o grego.    "Confesso que deixei tudo para trás, moral, política e preocupação social", completa o ator Themis Panou, aterrorizante no papel. "Construí meu personagem pensando em um homem que sente prazer em ter poder sobre as pessoas que ama".

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