Filme 'Me Sinto Bem com Você' mostra os reflexos do isolamento nos jovens

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
23/05/2021 às 12:12.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:00
 (AMAZON PRIME VIDEO/DIVULGAÇÃO)

(AMAZON PRIME VIDEO/DIVULGAÇÃO)

Matheus Souza levou pouco menos de um mês entre a escrita do roteiro e a realização do filme “Me Sinto Bem com Você”, disponível desde quinta-feira no site de streaming da Amazon Prime Video. “No meio de todo este caos que a gente está vivendo desde 2020, uma das poucas coisas que a gente pode fazer é desabafar. As pessoas desabafam de diferentes formas; a minha é escrever”, registra o diretor ao Hoje em Dia.

Num momento em que o audiovisual parou por completo, por conta principalmente da pandemia, ele passou a transformar tudo o que estava sentindo em cenas. “Pensava em guardar aquilo e usar algum dia, mas a pandemia foi continuando e, quando percebi, já tinha roteiro”, lembra.

Ao mostrar um roteiro “feito sem compromisso” para amigos, entre eles atores como Manu Gavassi, a resposta foi unânime: Souza não poderia esperar todo mundo ser vacinado para rodar o filme. “Era um projeto que dava para fazer. Estava todo mundo parado e era algo mais fácil, porque exigia uma equipe muito reduzida. Acabou sendo realizado de forma rápida por empolgação e por essas facilidades”, observa.

O filme mostra vários tipos de relacionamentos que tentam sobreviver à pandemia, especialmente por meio de conversas online. “Queria que este filme fosse como um abraço para quem assistisse. Ele mostra que o coletivo é importante, sobre o impacto do outro na sua vida e o poder da escuta”.

Consciente de que tem “TikToks mais complexos que este filme, em termos de realização”, Souza relata que o processo longe das locações foi “difícil e diferente”, com ensaios feitos por Zoom e edição a distância. “É muito doído fazer tudo isso com uma internet que trava e todas essas pequenas complicações. Por sorte, estava todo mundo querendo acertar. Contar com a boa vontade das pessoas facilita demais. Sem dúvida nenhuma, foi o set com o melhor clima que já tive na vida”, elogia.

Ele ressalta que não se trata de uma obra “sobre” a pandemia, mas sim de como estamos nos sentindo e com quem podemos contar. “Por mais que as histórias sejam diferentes (no filme), teoricamente não se inter-relacionando, há vários detalhes no roteiro que ligam os núcleos. Desde um elemento mais físico, como uma mordida e uma lambida, ao fato de todos terem alguém fazendo um tipo de arte”, revela.

A estrutura de “Me Sinto Bem com Você” não é diferente de outros trabalhos de Souza, que aposta todas as suas fichas nos diálogos, boa parte deles espirituosos. Além de mirar o público jovem. “Gosto muito de dialogar com esta faixa, pois é uma geração muito complexa e fascinante. Talvez seja a primeira geração que sabe mais que os próprios pais. Hoje em dia aprendo muito mais escutando-os do que com alguns diretores e roteiristas que admirava”.

A autorreflexão é uma herança positiva da pandemia

A psicoterapeuta e escritora Simone Demolinari não tem dúvidas: o buraco existencial durante a pandemia ficou ainda maior. “Com a retirada de prazeres, de diversão, de distração, as pessoas se voltaram umas para as outras”, registra a colunista do Hoje em Dia.

Ela destaca que a necessidade de ser acolhido vem bem antes do isolamento social, mas esse sentimento foi potencializado. O contato virtual, neste sentido, não pode ser vilanizado, como se fazia antes da pandemia, quando se criticava o tempo passado nas redes sociais.

“Hoje a dinâmica é outra e a maioria dos relacionamentos se inicia no virtual. Não tem evento, não tem restaurante. As pessoas vão se relacionar por mensagem. Faz parte da atualidade, gostando eu ou não”, analisa a psicoterapeuta.

O caso dos personagens de Matheus Souza e Manu Gavassi, que voltam a se relacionar na pandemia por meio online, é uma herança positiva que a pandemia nos deixou, de acordo com Simone. O corre-corre diário é substituído por momentos de reflexão, levando a uma necessária mudança de rota.

“A nossa vida é sempre tão corrida, a ansiedade da próxima situação em que estarei envolvida é tão grande, que acaba faltando um momento para eu fazer um balanço”, avalia. Ela observa que, num mundo que favorece o descarte, “temos uma tendência a estar sendo encorajados a pensar que substituir é mais fácil do que consertar”.

Este pensamento vale para outro casal do filme, em que a convivência forçada dentro de casa leva a uma antipatia recíproca. “Essa antipatia que se instala na relação deriva do fato de as diferenças ficarem muito exacerbadas”, assinala.

“Se fico em casa só a noite, sou bagunceira e meu marido é organizado, só terei um período para bagunçar a casa. Se passo a bagunçar o tempo todo, essa diferença fica inadministrável. É preciso se pôr na posição do outro e buscar meio termo”, exemplifica.

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