(Bruno Magalhães/divulgação)
BRASÍLIA – Embora se acentue muito hoje a questão do lugar da fala, com certas temáticas devendo ser abordadas por seus representantes (negros, homossexuais etc), o diretor mineiro Cris Azzi construiu em “Luna” um filme muito feminino.
Exibido na noite de segunda-feira (17) no Cine Brasília, dentro da mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, “Luna” traz uma sensibilidade que conquistou a plateia, sendo bastante ovacionado ao final da sessão.
O longa-metragem, o primeiro de ficção de Azzi, não é feminino apenas ao retratar o universo de uma adolescente, Luana, num processo de descoberta, vivendo os conflitos comuns à idade no contato com o outro, especialmente na escola.
Este olhar para o universo da mulher também se faz presente na maneira como ela se relaciona com a mãe, numa casa em que o pai está ausente, fortalecendo o laço materno como um resgate do amor essencial à sociedade.
Um amor que se contrapõe aos interesses particulares do pai de outra garota, com essa voz masculina sendo representativa da decadência da sociedade atual, introduzida numa discussão em sala de aula sobre o que é democracia.
O ser feminino se manifesta ainda na relação com a Natureza, que muitas vezes se confunde com a própria casa de Luana, enveredando por uma atmosfera onírica em que a protagonista se vê protegida pela Mãe Terra.
Azzi costura com muito refinamento esta passagem da realidade para o mundo imaginário da garota, aproveitando-se da serração e de um tempo nublado como portas de acesso a este interior ainda cheio de dúvidas da protagonista.
Com um final forte, que sublinha a necessidade do empoderamento para uma sociedade melhor no futuro, “Luna” diz respeito a escolhas que ocorrem num momento de nossas vidas, mas, como na política, definidores do que queremos como comunidade.
(*) O repórter viajou a convite da organização do Festival de Brasília