Filme 'Os Melhores Anos de uma Vida' faz tributo ao cinema

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 25/06/2021 às 10:32.Atualizado em 05/12/2021 às 05:15.
 (PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO)
(PANDORA FILMES/DIVULGAÇÃO)

A presença de Anouk Aimée em “Os Melhores Anos de uma Vida” enche os nossos olhos com a sua beleza. Aos 89 anos, a atriz francesa é peça essencial para a compreensão da proposta do filme de Claude Lelouch, em cartaz nos cinemas do país, que apresenta uma abordagem diferente em relação à questão da terceira idade.

O encantamento provocado por Anouk a cada fotograma em que aparece tem dupla face: a primeira – e mais superficial – se refere à própria concepção de velhice. Não há sofrimento ou lamentação. A personagem parece trazer um sentimento de completude e satisfação, com a beleza exterior refletindo esse estado de magnificência.

É como uma deusa, ligada a uma ideia de permanência e infinitude. Sempre bonita, sem aparentemente sofrer nenhuma aflição (física ou emocional), que até pode ser confundida com passividade se não fosse pela maneira ativa como Anne se posiciona quando questionada sobre a vida, principalmente de seu passado com Duroc.

O personagem de Jean-Louis Trintignant reaparece mais de 50 anos depois de o casal viver um tórrido e marcante romance. Na verdade, quem ressurge é Anne, ao visitar o ex num asilo a pedido do filho deste. Já com a mente debilitada, a única constante em seus pensamentos é a memória sobre o que viveu com Anne.

Ao se reconectarem no presente, mesmo que Duroc não saiba dizer se o que está vendo é realidade ou sonho, a beleza da memória representada por Anouk é o que mais resplandece, ampliada por uma condução muita afetiva de Lelouch, que, de fato, recupera dois personagens que protagonizaram a sua obra mais famosa, “Um Homem, Uma Mulher” (1966).

Não deixa de ser um exercício de deleite metalinguístico, em que o próprio Lelouch, aos 83 anos, mergulha em suas memórias para reconfigurar aquela intensa paixão à sua maneira de enxergar a terceira idade – não como um rompimento, mas sim como continuidade, o que fica patente nas constantes fusões entre os personagens de ontem e hoje.

É como se reafirmasse que aquele casal fosse o mesmo, indistintamente do tempo, preservado nos sonhos de Duroc. O ex-piloto de corridas só tem mente e olhos para a sua deusa. Em Lelouch, vemos um prazer contínuo pelo deus cinema. A associação com o personagem de Trintignant não é despropositada.

Além de cenas de “Um Homem, Uma Mulher”, o cineasta recorre a sequências do seu curta-metragem “C’etait um Rendez—vous” (1976), em que percorre Paris em alta velocidade, sem parar e sem cortes, com a câmera afixada no para-choque de uma Mercedes. Ele empresta ao piloto fictício a sua perigosa proeza e ganha de volta um dos mais belos tributos ao cinema.

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