Filme resume as necessidades do Brasil de hoje

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
11/06/2018 às 16:39.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:32
 (VITRINE/DIVULGAÇÃO)

(VITRINE/DIVULGAÇÃO)

“Paraíso Perdido” não é um filme político, mas é o que melhor resume as necessidades do Brasil de hoje. Em uma palavra: compaixão. Em cartaz nos cinemas, o longa-metragem de Monique Gardenberg nos encaminha, a partir das dores afetivas de uma família de artistas, por uma vereda de pacificação interior.

Não se critica o país ou os políticos que o conduzirem para uma situação de abismo social, optando-se por adotar um mecanismo quase espiritual de compreensão plena do lugar do outro. O espectador assume o olhar de Odair (Lee Taylor, em grande atuação), um policial que investiga, na melhor acepção do termo, o funcionamento daquela família.

Ele é contratado para trabalhar como segurança de uma das atrações da casa noturna Paraíso Perdido e seu papel naquele estranho e amoroso núcleo não será o de salvar alguém. Um dos pilares do roteiro é a ideia de complementariedade, de peças que vão se completando dentro de um universo macro (de sociedade) e micro (familiar).

E isso fica claro nos minutos finais, quando descobrimos a verdadeira razão de Odair participar da vida de um grupo formado por tantos corações feridos, mas que aceitam essa condição como uma experiência natural de vida. Há uma grande beleza na maneira de enaltecer essas dores, que nos levariam a uma vulnerabilidade necessária.

O coração tem que estar sempre aberto, parece dizer o filme, tanto em relação a raças e gêneros (uma questão importante no roteiro) quanto nas escolhas que fazemos, ressaltando-se a necessidade de se acreditar no outro. Não por acaso, o tema musical que envolve todos os acontecimentos é o brega, estilo identificado como uma curtição de fossa.

Diferentemente de outros filmes, não são as mulheres que ditam a mudança. Elas surgem aprisionadas em ações do passado. Já os homens parecem ter a chave para liberar esse sentimento, na figura de Erasmo Carlos, como o patriarca dono do Paraíso Perdido, e de Júlio Andrade, o filho cantor que todos nós gostaríamos de ter como parente.

Gardenberg fez um filme sobre a espera, palavra próxima à esperança. Esperar com esperança é a tônica da trama, podendo ser os 20 anos em que uma mãe aguardou para rever o filho ou alguns dias em que uma transformista anseia pela correspondência amorosa. Em tempos difíceis, acompanhar tanta compaixão tem o efeito de antídoto.

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