Filmes mineiros como 'Luna' se destacam no Festival de Brasília

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
22/09/2018 às 15:41.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:36
 (BRUNO MAGALHÃES/DIVULGAÇÃO)

(BRUNO MAGALHÃES/DIVULGAÇÃO)

 BRASÍLIA – Cris Azzi ainda não sabe como descrever “Luna” numa sinopse, devido à quantidade de temas que o longa-metragem do diretor mineiro tangencia, da questão do gênero ao cyberbullying, passando por questões políticas atuais e abuso sexual. Essa multiplicidade de subtramas chamou a atenção do público e da crítica que acompanha o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, onde a produção foi recebida de forma calorosa, com muitos aplausos ao final de sua sessão. “A gente ainda está em busca de uma síntese, mas creio que a questão principal nunca deixou de ser, desde o processo de preparação, o rito de passagem da Luana, personagem que está numa fase chave, de descobertas, vendo o mundo como uma esponja”, registra Azzi, ao falar de sua protagonista, vivida por Eduarda Fernandes.  A questão do bullying, após Luana ter um vídeo vazado nas redes sociais, acaba sendo, segundo ele, um motor, que ajuda a dramaturgia a ganhar forma. Trata-se do mesmo gancho temático de outro filme nacional, “Ferrugem”, atualmente em cartaz, e de “Depois de Lúcia”, produção mexicana que foi uma das principais referências de Ana Clara Ligeiro, que interpreta a garota que surge para dar um nó na vida de Luana.  Azzi destaca que as atrizes tiveram papel determinante na construção do roteiro. “Não tínhamos um roteiro para elas levarem para casa. Lemos uma primeira versão juntos e a reação delas foi de um silêncio abissal, pois o tom era muito distante do que a geração delas vivia”. A discussão do lugar da fala, muito presente no festival desde o ano passado, quando “Vazante”, de Daniela Thomas, foi duramente criticado ao não dar a devida voz para personagens negros, é relativizada justamente pelo papel das protagonistas como co-autoras. “Tínhamos consciência do arco dramático, mas não era um lugar que ficávamos revisitando. No processo de preparação, construímos um vocabulário que serviu como um dispositivo para ser acionado no set, para acessar certos lugares dos personagens”, afirma Eduarda. Minas“Luna” terá distribuição da mineira Cineart, com estreia prevista no próximo ano. Outros filmes mineiros presentes nas mostras competitiva e paralela do festival, como “Temporada”, “Inferninho” e “Guaicurus”, também já garantiram distribuidores. Além de longas, os curtas ligados ao Estado também tiveram boa recepção e aparecem com chances de sair de Brasília com troféus, entre eles “Plano Controle”, de Juliana Antunes, e “Mesmo com Tanta Agonia”, de Alice Andrade Drummond. “O filme surgiu quando assisti a um jornal na TV que falava de um ambulante que morreu após um trem bater nele e outros três passarem por cima do seu corpo. Assim que terminou a reportagem, a âncora trocou de assunto para ‘uma coisa boa’, sobre uma novidade no mercado, que eram as festas infantis em limusines. Fiquei chocada! As notícias pareciam desconexas e fiquei incomodada”, conta Ana Alice. A personagem central, uma subchefe de cozinha que, no metrô, acompanha o acidente e depois tem que esquecer o que passou para produzir o aniversário da filha, é interpretada por Maria Leite, diretora mineira. “Foram dois anos de muita conversa. Não sou atriz e era muito importante para mim entender a cabeça da personagem. Fiz curso de cozinha e, para a cena final em que tinha que passar angústia, lembrei da morte da minha avó. Como fizemos muitas cenas, matei a minha avó sete vezes!”, revela. (*) O repórter viajou a convite da organização do Festival de Brasília 

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