Fita K7 foi importante para difusão das bandas mineiras nos anos 80 e 90 e ensaia até uma volta

Paulo Henrique Silva
14/10/2019 às 15:05.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:12
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

A melhor maneira de as bandas, especialmente as do cenário mais underground, fazerem o próprio trabalho circular, nos anos 80 e 90, era com as chamadas demo tapes. Muitas foram gravadas de maneira caseira e, em alguns casos, o trampolim para o vinil (aquele que existia antes do CD) nunca aconteceu, transformando essa produção em verdadeira preciosidade para fãs das (quase) extintas fitas K7.

Na verdade, o K7 não desapareceu completamente. Hoje, é importante item de colecionador. 

Um deles é Frederico Catarino, bibliotecário e músico da seara do metal em Belo Horizonte. Ele acaba de digitalizar mais de 20 fitas e disponibilizar o material no Fábrica de Fracassos, canal que assina no YouTube. “Muita coisa que eu tinha não existia na internet e em nenhum outro lugar. Minha ideia foi tornar tudo isso acessível”, afirma.

Entre as 280 músicas disponibilizadas na rede, há muitos trabalhos ligados ao metal e ao punk, gêneros que tiveram cena muito efervescente na capital mineira de 1980 e 1990. Hoje à frente da banda Stomachal Corrosion, o guitarrista Charlie Curcio lembra do aspecto amador na realização das demo tapes, gravadas na garagem de um dos integrantes.

“A gente fazia com um gravador mesmo e dava pause antes de começar cada música. Hoje já tem programa de computador específico para isso, mas antes era tudo feito na raça”. Arquivo Pessoal/Divulgação

O guitarrista Charlie Curcio lembra do caráter amador como eram feitas as gravações em K7

Para copiar o material em fitas K7 e distribuir a possíveis interessados, ele tinha o trabalho de colocar uma a uma num gravador duplo deck, disponível apenas na casa de alguns amigos.

Catarino recorda que, num tempo em que a internet apenas engatinhava, sem e-mail e MP3, o melhor jeito de divulgar um disco era por meio do K7.
“Você enviava as fitas por correio e havia uma troca entre as próprias bandas”, salienta. “Foi a primeira pirataria que existiu, já que eram fáceis de reproduzir”, destaca Rodrigo F, da banda Holocausto, que completou 35 anos de estrada em 2019.

Aos poucos, o lado mais artesanal foi substituído pelo CD e pelo streaming, permitindo contato com processos mais profissionais e baratos. “Foi período de grandes mudanças. Os grandes selos foram acabando e a internet ganhando força. A cena também foi se modificando, com o fechamento de algumas casas de shows”, diz Catarino.

Como destaca Rodrigo F., cada formato tem o seu valor, com características muito próprias. “A moçada curte streaming, mas há quem prefira uma forma mais autêntica, especialmente no nicho do rock”.

Billie Eilish, cantora que virá ao Brasil no próximo ano, é uma das artistas que lideram as vendas de k7 no Reino Unido, com mais de quatro mil cópias do trabalho de estreia, “When We All Fall Asleep Where Do We Go?”


Falta de equipamentos dificulta retorno ao mercado

Aos poucos, assim como o vinil, os K7 estão mesmo voltando. Várias bandas mineiras, especialmente do nicho do metal e do punk, estão lançando seus trabalhos no antigo formato. Uma delas é a Holocausto, uma das mais importantes do cenário do heavy metal em Belo Horizonte, ao lado de Sepultura, Chakal, Multilator e Sarcófago.

O selo Cogumelo, que ficou famoso por lançar alguns destes grupos há 30 anos, vem colocando no mercado os álbuns mais antigos do Holocausto em versão K7. Os discos mais recentes também têm ganhado produtos diversificados da gravadora americana Nuclear War Now!, que chegou a lançar uma demo tape do trabalho atual, “Diário de Guerra”, intitulado “Guerra Total”.IGOR ARRUDA/DIVULGAÇÃO

A banda Holocausto tem discos reproduzidos em diferentes formatos

 Prévia

“Enviamos para a gravadora para ver como estavam saindo as músicas. Eram gravações mais caseiras. Mas ela achou tão legal que resolveu lançar como prévia”, registra o vocalista Rodrigo F., que acredita que o K7, em seu retorno, está apenas no início de uma curva ascendente.

O problema, aponta Rodrigo, é a falta de K7 players, que não são fabricados no Brasil. João Eduardo de Faria Filho, fundador da Cogumelo, lamenta que a qualidade dos produtos periféricos ainda seja ruim. “Como fabricar um produto se não há boas caixas de som e amplificadores? Você vai pôr um K7 num toca-discos reco-reco?”, lamenta.Divulgação

A gravadora Cagumelo prepara box com com K7s da banda Sarcófago

A tiragem de K7s ainda é muito pequena. Mesmo para um grupo de reconhecimento internacional como o Holocausto, ela não passa de 200 a 300 unidades. 

Com o álbum comemorativo dos 30 anos de “Extermínio”, primeiro disco da banda, lançado em 1987, a Brazilian Ritual Records fez licenciamentos para vários países, como Tailândia, Canadá e China. Em todos estes locais, a média é de 200 unidades.

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