Focado no tema da loucura, espetáculo 'Engenho de Dentro' estreia neste sábado

Jéssica Malta
jcouto@hojeemdia.com.br
24/10/2018 às 16:49.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:24
 (Tati Motta/Divulgação)

(Tati Motta/Divulgação)

A insanidade vista a partir dos olhos de um louco. É assim, apresentando as aventuras fantásticas, delírios e devaneios de um homem confinado em um quarto de hospício, que o espetáculo “Engenho de Dentro”, explora o universo da loucura. A peça estreia neste sábado (27) no Sesc Palladium e fica em cartaz até o dia 4 de novembro.

Distante do tom denunciativo e reivindicativo comum às produções que abordam a insanidade, a montagem, solo do ator Leonardo Rocha, dirigido por Eduardo Moreira do Grupo Galpão, tem como foco a realidade do personagem. “A peça está focada no universo dessa figura confinada. São seus delírios. Não me interessou falar da luta antimanicomial, que eu vejo como um olhar da sociedade sobre esses indivíduos. O que acontece no espetáculo é fazer o caminho contrário. É um olhar desse indivíduo sobre a sociedade”, explica Rocha.

A inspiração para esse olhar surgiu de visitas feitas pelo ator ao Museu de Imagens do Inconsciente – local criado em 1052 para abrigar produções artísticas feitas por pacientes do Centro Psiquiátrico Nacional, no Rio de Janeiro. “As obras do museu me instigaram muito porque eram figuras extremamente poéticas. Quando percebi isso, vi que existia um outro viés criativo sobre esse tema”, conta o ator

Solo

Espetáculo solo, o ator sublinha ainda os desafios da empreitada. “Sou de um grupo de teatro de rua (Maria Cutia), sempre trabalhei com música e com mais pessoas em cena. No ‘Engenho’, não tem música, ninguém em cena. É uma tentativa de puxar o meu tapete, de tirar um pouco do eixo”, confessa ele, que vê também outros significados no formato “Fazer um solo também é uma loucura. É uma metáfora de uma loucura libertária para qualquer ator”, acredita. Mas mesmo solo, Rocha destaca o papel fundamental dos objetos que compõem o cenário. “São seis móveis antigos, de 40, 50, 60 anos atrás. De alguma forma eles fazem o espetáculo junto comigo, são meus interlocutores”, diz. “Eles estão suspensos com uma única parte tocando o chão para dar uma ideia de suspensão da realidade, para dar essa ideia de que estamos com um pé nela, mas com um baque de flutuar”, explica.

E para ele, “flutuar” é um pouco do que as pessoas precisam atualmente. “A loucura e o delírio podem fazer com que a gente flutue e observe tudo o que está acontecendo de cima”, reflete ele, que sublinha o papel da arte neste contexto. “Em um momento tão complexo como o que estamos vivendo, acredito na arte como salvação. Não é por uma alienação completa que vamos nos salvar, nem por um radicalismo profundo. Temos que ter um pouco desse olhar agora, um tom crítico e menos visceral. Acho que a arte permite um pouco dessa contemplação. Enquanto a política desperta o que temos de pior, ela desperta o que de melhor temos”, conclui.

“Engenho de Dentro”, nesta sábado (27) e de 31 de outubro a 4 de novembro, no Sesc Palladium (Av. Augusto de Lima, 420 – Centro). R$ 15 e R$ 7, 50 (meia)

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