Fotos revelam transformações causadas pela mineração em serras do Estado

Bernardo Almeida
17/07/2019 às 08:46.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:34
 (José Luiz Pederneiras / Divulgação)

(José Luiz Pederneiras / Divulgação)

Chego à sacada e vejo a minha serra, a serra de meu pai e meu avô, de todos os Andrades que passaram e passarão, a serra que não passa”. Assim começa o poema “A montanha pulverizada”, de Carlos Drummond de Andrade, que retrata as transformações provocas pela mineração na paisagem em Minas Gerais. Poema que serviu de inspiração para o trabalho do fotógrafo José Luiz Pederneiras, que estará à disposição do público por três meses, com entrada gratuita, a partir deste domingo, na Galeria de Arte do Centro Cultural Minas Tênis Clube.

“O outro lado da montanha” traz 25 imagens do fotógrafo, tendo montanhas modificadas pela atividade mineradora como objeto principal. 

Fotógrafo do Grupo Corpo Companhia de Dança desde a fundação, em 1975, Pederneiras conta que a ideia surgiu em 2014, durante uma das viagens mensais entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Ele passava pela BR-040, nas proximidades da cidade histórica de Congonhas, a 90 km da capital mineira.

“Vi uma montanha completamente coberta por tiras de pano e tiras de plástico, embrulhada, parecia uma obra de Christo e sua esposa Jeanne-Claude”, conta, em referência ao casal de artistas plásticos búlgaros. “Essa área é tão modificada que se bobear nem existe mais”, lembra o fotógrafo, que a partir daí teve a ideia de registrar esse cenários.

Registro, não denúncia

Apesar de destacar as consequências da atividade extrativista, Pederneiras isenta os retratos de qualquer tom de denúncia contra as mineradoras. São, isso sim, sobre o modo como o relevo se alterou. “O foco é a transformação dessa paisagem. Minhas fotografias fazem um pequeno inventário dessa modificação”.

A Serra do Curral também está retratada, com uma visão distinta daquela a que os belo-horizontinos têm acesso todos os dias. “A Serra do Curral está toda escorada por estruturas de concreto, é uma fachada artificial, um outdoor. A vista da Praça do Papa é linda, mas é uma casca”, pontua Pederneiras.

A mostra vem diante de um tema tão abordado recentemente, conta o diretor de Cultura do Minas Tênis Clube, André Rubião. “É um tema contemporâneo, sobre um patrimônio que deve ser conservado, e não vemos políticas públicas ou decisões judiciais em defesa dessa preservação. A exposição é um alerta sobre a necessidade de olhar para a questão”.

SERVIÇO
Exposição “O outro lado da montanha”Centro Cultural Minas Tênis ClubeRua da Bahia, 2.244 – Lourdes21 de julho a 21 de outubroTerça, quarta, sexta e sábado (10h às 20h)Quinta (10h às 22h)Domingos e feriados (11h às 19h)Entrada gratuita

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