Futuro que já chegou: Baiana System mergulha nas raízes regionais em novo álbum

Lucas Buzatti
22/02/2019 às 18:28.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:40
 (Filipe Cartaxo / Divulgação)

(Filipe Cartaxo / Divulgação)

Quem já foi a algum show do Baiana System sabe que trata-se de uma experiência ímpar. A energia que emana do palco, com seus telões e paredões de som, rebate em cheio no público, causando uma verdadeira catarse coletiva. Corpos e suores se misturam num mosh cheio de alegria, ritmado pelo som de uma das bandas mais criativas da música brasileira nos anos 2010. Somada ao espetáculo imagético das projeções, a potência das músicas – que fundem a guitarra baiana de Roberto Barreto, o vocal ragga de Russo Passapusso, o baixo suingado de SekoBass – fez do show do grupo um dos mais cotados para festivais por todo o Brasil.

Difícil, então, superar o sucesso de dois discos-irmãos tão enérgicos como “Duas Cidades” (2016) e “Outras Cidades” (2017). Mas não parece, de fato, ter sido esse o intuito do Baiana System com seu quarto álbum, “O Futuro Não Demora”. O disco, que traz 13 faixas inéditas, percorre novos caminhos artísticos, investigando as raízes da música baiana. Produzido por Daniel Ganjaman e pela própria banda, o álbum foi concebido em uma imersão em Itaparica.

Na ilha a 13 quilômetros de Salvador, o trio, o produtor e alguns colaboradores se aprofundaram nos tambores baianos, dos afoxés ao samba, do reggae ao pagodão. O resultado é elementar e conceitual, já que o trabalho abre com o ijexá místico de “Água” e fecha com o samba-reggae minimalista de “Fogo”. 

A primeira faixa tem a participação da Orquestra Afrosinfônica, que também toca na última música, e de Antônio Carlos e Jocafi. Responsável por sucessos como “Desacato” e “Kabaluerê”,a dupla baiana também participa de “Salve”. A faixa, que ainda conta com a voz de BNegão, é uma reverência, ao ijexá, a grupos musicais nordestinos e a ativistas sociais. “Salve Nação Zumbi, Salve Zulu Nation e Rumpilezz / Salve Nelson Mandela, Martin Lutherking e o Ilê-Ayê”, saúda a letra. 

Fundador do grupo e um dos grandes nomes da guitarra baiana, Roberto Barreto fez a ponte com Manu Chao, que também empresta alguns versos em “Sulamericano”, mistura saborosa de salsa, cumbia e reggaeton. Já o rapper paulistano Edgar divide os vocais com Curumin no reggae etéreo de “Sonar”, uma das faixas mais poderosas do disco. Registram-se, ainda, as participações de Lourimbau, na capoeira de “Melô do Centro da Terra”; do grupo Samba de Lata de Ijuacú, em “Redoma”, uma espécie de coco-rap; e do MC Vandal em “CertopeloCertoh”, rap sagaz, com base de samba-reggae.

Sem contar as faixas compostas apenas pela banda, como os pagodões “Saci” e “Arapuca” e a deliciosa “Bola de Cristal”, que remete ao trabalho solo de Russo Passapusso. Ao fim da audição, fica a sensação de que o trio quis desconstruir sua identidade artística, criando um álbum que escapa das obviedades esperadas por quem já está no topo. O futuro realmente não demora: para o Baiana System, ele já chegou. 
 

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