(MARIA EDUARDA DE CARVALHO/DIVULGAÇÃO)
Primeiro escritor brasileiro a ganhar o prêmio Nobel de Literatura, o mineiro Jacques Fux já pôs no papel o seu discurso de agradecimento – um livro de 127 páginas que leva o nome da premiação da Academia Sueca e que será lançado hoje dentro do projeto “Sempre um Papo”, no auditório da Cemig. “Agora só estou à espera do cheque um milhão de euros cair em minha conta”, diverte-se Fux, que criou uma espécie de “fake news” literário, imaginando-se na condição de laureado de um dos mais prestigiosos prêmios do mundo, criado em 1901 e até hoje sem nenhum brasileiro na lista dos ganhadores. Mais importante do que falsear essa situação é a possibilidade de Fux “dessacralizar” o próprio universo literário por onde transita, a partir das instituições. Um olhar satírico e impiedoso – marca registrada do escritor desde “Antiterapias” (2013) – que, especialmente no Brasil de hoje, pode ir muito além da literatura. “O que estamos vendo agora são grandes instituições –entre aspas– envolvidas em questões políticas e sujeitas ao jogo das vaidades. Na verdade, em tudo que se faz há a questão humana, com todas as suas falhas. E a literatura não está longe disso”, observa o escritor, pós-doutor em Teoria Literária. EsqueletosEm “Nobel”, ele mergulha em fatos que estão, geralmente, recalcados ou escondidos por grandes nomes da escrita. Entre eles, o caso amoroso de Franz Kafka (de “O Processo”) com a melhor amiga de sua amada Felice e que serviu de fonte de inspiração para o autor. No livro, o Fux narrador lembra que “nos valemos da nossa própria sujeira e imundície para sermos premiados, lidos e reconhecidos. Só talento não basta”. Com isso, o mineiro mostra que, por mais infames que eles sejam, está nestes esqueletos saídos do armário a origem da pulsão literária.
“O livro é muito baseado em Jorge Luis Borges e Michel Foucault, que trata desses homens infames. Eles só são grandes escritores porque escrevem sobre as suas vivências pessoais”, salienta Fux, para quem “Nobel” dialoga com o momento em que casos de assédio sexual estão vindo à tona. “O livro chama para o diálogo ao falar de casos como o de Derek Walcott, acusado de assédio a uma aluna em Harvard, confirmado por várias pessoas, e quando cita o discurso de Svetlana Alexievich (ganhadora do Nobel em 2015), que critica o fato de os homens adulterarem as narrativas de guerra”, pontua. Serviço – Sempre um Papo com Jacques Fux. Hoje, às 19h30, no auditório da Cemig (Rua Alvarenga Peixoto, 1200, Santo Agostinho). Entrada franca.