Gal Costa completa 70 anos e segue como referência na música brasileira

Thais Oliveira
26/09/2015 às 11:19.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:51

No alto dos seus 70 anos de idade, completados exatamente neste sábado (26), Gal Costa mantém como poucas a pose de diva. O que pode ser aferido no álbum “Estratosférica”, lançado em maio. “A música me dá energia, me alimenta, me rejuvenesce e me ilumina”, diz a cantora ao Hoje em Dia. Possuidora de uma das vozes mais belas do país – quiçá do mundo – a mãe de Gabriel revela que o segredo de tanto êxito, além da “garra e a paixão pela música”, é o “espírito jovem e a vontade de mudar e transformar”.

Gal vendeu milhões de discos ao longo de seus 50 anos de estrada. E pensar que o marco zero de sua carreira foi quase que despretensioso. Em uma participação no LP “Opinião”, de Maria Bethânia, em 1965, na última faixa do lado A, ainda com o nome de Maria da Graça, a jovem de 20 anos chamou atenção na interpretação de “Sol Negro”. A partir de então, a cantora, baiana de Salvador, nunca mais seria esquecida. Várias canções ficaram conhecida em sua voz, como “Baby”, “Vapor Barato” e “Sua Estupidez”, para citar algumas da lista, ainda não contabilizada, de gravações que fez.

Olho no futuro

Apesar de tantos sucessos, Gal vem direcionando o olhar ao que está por vir. Tanto que, nos últimos discos (“Recanto” e “Estratosférica”), a grande maioria das músicas é inédita. Além de fazer questão de revelar nomes. “Durante a minha carreira, sempre fui muito aberta ao trabalho de outros artistas. Tive o prazer de trabalhar com a Mallu Magalhães e o Felipe Cordeiro neste projeto e foi algo muito bom. Busco ficar atualizada e nada melhor do que esta troca com uma geração mais nova”, afirma.

Para o cantor, folclorista e produtor cultural mineiro Wagner Cosse, é justamente esta “coragem” de viver intensamente o presente que tornou Gal um ícone da música brasileira. “Ela não vive do passado glorioso que tem. Ousa, surpreende e se renova constantemente. É uma cantora de vanguarda, pois está sempre revolucionando na maneira de cantar”, destaca. Fã incondicional da artista, Cosse diz que a cantora está sempre em busca do avanço. “Gal é um farol no presente que ilumina os caminhos futuros da MPB”, completa. ‘Considero que Gal foi a primeira cantora moderna’, diz Cosse   O primeiro contato que Cosse teve com o trabalho de Gal Costa foi em 1968, quando assistiu ao Festival da Música Popular Brasileira na Record. “Fiquei impressionado ao vê-la com aquela roupa psicodélica, era diferente de tudo da época”.   Contudo, diz ter virado admirador “eterno” quando Gal gravou “Sua Estupidez”, em 1971, no álbum “Fa-Tal – Gal a Todo Vapor”, um dos seus preferidos. “Este disco foi um marco histórico na música brasileira; foi o primeiro disco duplo e foi gravado ao vivo, traduzindo o calor do show, a emoção genuína daquele momento. É avassalador”.   “Considero que a Gal foi a primeira cantora moderna do Brasil. Nós, brasileiros, somos abençoados por termos uma cantora como esta, que pode traduzir o momento presente com interpretações magníficas e uma voz prodigiosa, cristalina, de timbre perfeito”, continua.   Juntamente ao cantor Thelmo Lins, Cosse montou o espetáculo “Casa de Gal e Bethânia”, que estreou este ano no Teatro Santo Agostinho. Lins, aliás, é outro a destacar a potência vocal de Gal. “Ela esteve num ranking entre as dez vozes mais belas do mundo”, recorda.   Interpretação peculiar   Segundo Lins, o jeito de cantar de Maria das Graças Costa Penna Burgos, a Gal Costa, vem de João Gilberto, que ela ouvia muito quando trabalhava numa loja de discos, na Bahia. “Ele reconheceu Gal como a maior cantora brasileira na época. Ela tinha 19 anos, era uma desconhecida ainda. Imagina ter o aval de João de Gilberto?”.   Porém, para Lins o grande trunfo de Gal, o que a levou ao estrelato, foi a influência de Gil e Caetano e da Jovem Guarda, que mudou a sua forma de cantar. “Ela começou a misturar este canto simplista de João Gilberto e, com o passar do tempo, pulou de uma cantora mais delicada para uma voz mais forte”, diz.   A partir de então, considera o músico, as cantoras passaram a mirar-se na artista. “Gal foi sempre uma cantora ousada. Como já disse Luís Antônio Giron (jornalista): ‘Marisas aos montes não chegam ao calcanhotto da Gal’. E, além de tudo, ela é bonita”, diz.   ‘Sentia naquela voz límpida algo nostálgico, como se fosse me provocar saudades, o que, de fato, ocorre’
O diretor de teatro Felipe Vidal é outro fã. “A voz dela é impressionante, um verdadeiro instrumento. ‘Baby’ é uma perfeição na voz dela, uma joia”, diz ele, que dirige “Contra o Vento", musical inspirado na Tropicália, em cartaz no CCBB (Praça da Liberdade, 450) até 4/10.   Dentre os momentos que mais marcaram sua memória, Vidal destaca o show “O Sorriso do Gato de Alice”, de 1994. “Ela sempre foi ousada e, ali, mostrou os seios. Havia toda uma contestação naquele ato. Além disto, foi diversificando seu som. Neste último disco, apostou em arranjos contemporâneos. É uma cantora que se renova”.   Nostálgico   Outro admirador, o cantor e compositor Antonio Villeroy teve “Ruas de Outono”, parceria com Ana Carolina, gravada pela baiana. Ele conta que suas primeiras lembranças de Gal vêm da infância. “Estava com 7 anos e voltava do colégio, em São Gabriel (RS), ouvindo-a cantar ‘Baby’, de Caetano. Sentia, naquele som, naquela voz límpida, algo nostálgico e primaveril, como se fosse me provocar saudades no futuro, o que, de fato, hoje, ocorre, como se o tempo se dobrasse diante da força de gravidade daquele momento. Uma elipse, e ouço Gal no outono de 1973, cantando ‘Presente Cotidiano’ de Luiz Melodia. Momentos rápidos, da duração de uma música tocando no rádio, e que ficaram para sempre na minha memória”.   Já o DJ e vocalista do Baiana Ozadas, Geo Cardoso diz que nasceu escutando Gal. “É um ícone da música baiana e brasileira. Veio de uma geração de muito brilho, junto a Bethânia, Caetano, Gil, Glauber Rocha, Tom Zé. Sempre escutei o canto dela”, revela.


 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por