Galpão lança, nesta quinta, livro com a história do grupo

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
14/07/2021 às 21:33.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:25
 (ARQUIVO GALPÃO/DIVULGAÇÃO)

(ARQUIVO GALPÃO/DIVULGAÇÃO)

Teuda Bara salvou o Galpão de ir para o xilindró. Em 1983, a trupe, então com apenas um ano de vida, a trupe mineira tinha acabado de se apresentar na Praça Sete, animando  um comício de repúdio à política econômica do governo João Figueiredo, quando policiais cercaram os integrantes nas proximidades do Teatro Marília.

“Tínhamos feito um esquete bem esquerdista para o Sindicato dos Eletricitários, que falava sobre a entrega do Brasil para as multinacionais. Quando terminou a manifestação, fomos caminhando até o  Marília, que estava servindo de camarim. A polícia parou a gente e nos prendeu”, registra Eduardo Moreira, do Galpão.

“A Teuda conseguiu escapar e chamou o Jota D’Angelo, que era o secretário estadual de Cultura, para intervir a nosso favor. Se não fosse a Teuda e o Jota, estaríamos presos”, diverte-se o ator, que lembra o episódio na apresentação do livro “Grupo Galpão: Tempos de Viver e Contar”, que será lançado nesta quinta-feira, às 19h, no canal do YouTube do Sesc Pinheiros.

O lançamento faz parte das comemorações dos 40 anos do grupo, a serem celebradas em 2022. A história está toda lá, em textos e fotos. “Por meio do livro queremos deixar um testemunho de uma experiência. Espero que, daqui a 100 anos, as pessoas  o abram e percebam que é possível criar uma experiência duradoura com o teatro”, afirma.

Para Moreira, o teatro é um lugar formidável, com todos os problemas sofridos pela cultura no país só corroborando para ampliar a sua importância. “É impossível construir uma nação, uma identidade, sem Cultura. Ela é esse lugar da imaginação e destruí-lo é querer destruir um projeto de país, de cidadania”, lamenta.

O momento atual, somado à pandemia, é mais uma de várias crises que o grupo atravessou. “Elas nos colocam sempre de cabeça para baixo, como a de 2008. O Galpão tem mostrado um poder de resiliência muito grande. Sempre saímos fortalecidos desses momentos difíceis, sobrevivendo a eles”.

Resistência é uma palavra-chave na história do Galpão, criado na rua como as diversas manifestações que pipocavam no país no início dos anos de 1980. “É até curioso lançar o livro nesse momento em que claramente há um movimento político de submergir o Brasil de novo no obscurantismo da ditadura do totalitarismo”, compara Moreira.

“Nascemos em outro momento obscuro, em que a sociedade civil estava reagindo, criando movimentos para o fim da censura, a volta daqueles que tiveram que abandonar o país e eleições diretas. O que contamos no livro é muito atual, com um governo eleito que tenta de todas as maneiras dar um golpe nas instituições democráticas do país”, analisa.

Não poderia faltar, claro, a história da criação de “Romeu e Julieta”, pelo qual o grupo ganhou reconhecimento  internacional. “O espetáculo marcou o teatro brasileiro na década de 1990. E fizemos duas temporadas no Globe Theatre, em Londres, uma em 2002 e outra em 2016. O impacto lá foi grande, o que mostra a força do espetáculo”, assinala.

Apesar do impacto de “Romeu e Julieta”, o Galpão sempre teve como filosofia não se repetir. “Buscamos desafios, encontrando o risco. Só assim conseguimos manter a chama, colocando-nos numa situação de aprendiz e de alargar nossos horizontes. Não é sempre que a gente consegue, mas temos isso como meta”.

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