Chef preza pela história e a tradição de ingredientes que saem da sua horta para o prato do cliente

Eduardo Avelar - Hoje em Dia
29/11/2015 às 10:59.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:08
 (Beth Beltrão/Arquivo Pessoal)

(Beth Beltrão/Arquivo Pessoal)

“Quando eu era bem jovem, chegaram umas visitas em casa, minha mãe não estava, pensei: tenho que fazer alguma coisa pra eles comerem. Lembrei-me de um livro de receitas que tínhamos em casa e fiz um arroz e tomate. Meu avô nem acreditou e disse que ficou uma delícia”, relembra a chef e proprietária do Virada’s do Largo, Beth Beltrão.

Há 25 anos no comando do restaurante, a chef não sabe ao certo em que momento descobriu que o seu lugar era na cozinha, mas deixa a entender que isso sempre esteve com ela. “Acho que foi uma oportunidade de Deus me concedendo esse dom. Acho que nasci para cozinhar”, declara.

A chef, que trocou a carreira de informática pelas panelas, diz que nunca pensou em ter um restaurante. Segundo Beltrão, ela caiu na cozinha quando perdeu seu emprego em uma multinacional. “Perdi meu trabalho. Aterrissei em Tiradentes a passeio e, saindo para ir a um restaurante, vi uma placa de vende-se. Naquele momento tudo ficou resolvido na minha cabeça. Pensei: vou comprar esse restaurante e mudar o rumo do que vivi até agora”, explica.

“Vou trabalhar por prazer”

Com a coragem de uma aventureira, Beth estava prestes a uma mudança radical. Sem nenhuma experiência, mas com a certeza de que iria trabalhar com o que realmente gostava, ela não baixou a guarda e seguiu em frente. “Essa luta tinha que ser só minha, pois o mercado de trabalho estava muito complicado. Foi como se tivesse plantado uma semente e ela desabrochou com toda força”, relembra.

A chef, que está em uma constante busca para não deixar que nossas raízes sejam perdidas com tempo, é curiosa e cheia de porquês em relação aos alimentos. “Chegava a algum lugar que tinha sugestões diferenciadas no cardápio e buscava saber dos ingredientes. Foi assim quando vim a Tiradentes e ouvi falar do ora-pro-nóbis, logo fui buscar a história dele e, assim por diante, com o chuchu do vento, catinga de mulata, inhambu, cará roxo, mandioca vermelha...”, relata.

Como é a cozinha da Beth?

“É tentar nunca perder a história e a fidelidade com a cozinha mineira, seus encantos, com inspiração, criação, harmonia e comprometimento”, ressalta a chef. “A realização de se fazer o que se ama, se resume na minha equipe em um lema: ALEGRIA. Trabalhamos sorrindo, cantando e fazendo o que gostamos”, finaliza Beth.

Adepta do movimento slow food, Beltrão acredita que sentar à mesa e apreciar os alimentos é uma nova forma de mudar a relação das pessoas com a comida: “em número, gênero e grau”, enfatiza. Para ela, a grande maioria das pessoas está estressada e apressada. “Eles acabam não vendo e nem sentindo o prazer que o alimento pode nos proporcionar. Não só pela saúde, mas pelo sabor”, analisa.

Questionada sobre o mercado em que se cobra dos chefs que adotem posições, como defender patrimônios alimentares e enaltecer o uso de ingredientes regionais, Beth diz não sentir muito essa cobrança talvez por morar numa cidade pequena. “Apesar de receber um público do mundo, procuro apresentar sempre além da tradição da cozinha mineira, ingredientes que para muitos é desconhecido”, fala.

“Vou te dar um exemplo”, descreve a chef: “umbigo de banana, batata doce da polpa roxa, mangarito, cará roxo, quase ninguém conhece ou já experimentou e são feitos de uma forma simples, mas que traz novos sabores”.

Beth confia que cada chef ou cozinheiro tem seu conceito e sua direção, e reforça que eles não podem perder a história. “Se possível, eles devem resgatar e criar com alimentos que estão sendo deixados de lado por demorarem a produzir ou por não promoverem um retorno alto”. Para ela, a criatividade em cima de alimentos de raiz, que fazem parte da nossa culinária há décadas e décadas, é hoje a moderna gastronomia mineira.

Alimento que vem da horta

No restaurante Virada’s do Largo, premiado como a Melhor Comida Regional nos anos de 1996 a 2005, pelo Guia Quatro Rodas Brasil, os alimentos que vão à mesa são da própria horta da casa, e para a chef, o seu maior orgulho é ver o olhar de admiração dos clientes, ao verem que grande parte do que é servido em sua comida está sendo colhido na hora e na frente deles.

“Tenho o maior prazer de garimpar por aí afora e sempre venho com um farnel de novidades e a cada momento tenho uma nova menina dos olhos, por isto não posso deixar de ter orgulho de cada item que tenho aqui na minha horta”, explica. De diferente, no quinta do Virada’s que possuiu mais de 90 itens. Tem mandioca vermelha, mangarito, chuchu do vento, tomate de árvore, cará roxo, inhambú, catinga de mulata, tomilho limão, macadâmia, limão doce, jabuticaba branca, coentro do maranhão, entre outros.

 

Receita

A Cara da Riqueza

Ingradientes:

220 gramas de panceta assada

90 gramas de quibebe de abóbora

25 gramas de piruá frito

120 gramas de arroz vermelho

Modo de preparo

Barriga de porco em tiras temperada com limão capeta, alho, sal e pimenta de bode.

Abóbora cabotiá cozida com tempero, depois processada e refogada com cebola batidinha dourada no azeite. Frita a pipoca e dê uma repicada bem pequena. Coloque por cima do quibebe de abóbora.

Harmonizando

Ruby Tuesday - Cervejaria Kud

Líquido cobre e turvo, com espuma creme. No aroma e gosto, os maltes trazem dulçor de caramelo.

 

 

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