Chef Túlio e o equilíbrio entre a cozinha sofisticada e a informalidade do bar

Cristina Barroca - Hoje em Dia
12/04/2015 às 09:54.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:36
 (Carlos Henrique)

(Carlos Henrique)

Com ousadia e coragem, Chef Túlio foi do “gourmet” ao “butiquim” e é referência na capital dos barzinhos. Sem modéstia, ele se diz autor da “gourmetização” da comida de boteco em Belo Horizonte. “Porque antes do Chef Túlio, ninguém aqui comia pratos internacionais como tira-gosto, ainda mais em botequim”, afirma.   Neto de italianos, Túlio foi criado na cozinha da avó Anella. “Com 5 anos, eu já enrolava capeletti e subia no banquinho para ver os frangos amarrados cozinhando em uma ‘panelona’”, recorda.   Formado em Comunicação Social, aos vinte e poucos anos abriu seu primeiro bar na capital, mas decidiu vender e tentar a vida fora do país. Mudou-se para os Estados Unidos, onde começou a “trabalhar com comida”. A culinária foi um ramo tão certeiro, que ele passou por cozinhas do mundo todo sem sair daquele país. Foram 15 anos, 8 estados e 12 etnias. “Fui chef de cozinha, mordomo de gente rica, caseiro, cozinheiro, lavador de pratos. De tudo, um pouco”, complementa.   A estratégia era passar por restaurantes que serviam comidas internacionais e ficar de olho na cozinha. Mesmo que, para aprender “as manhas”, fosse preciso catar do lixo os rótulos, latas e garrafas de produtos para descobrir até mesmo o ingrediente usado nas receitas. “Eu pegava no lixo os nomes dos ingredientes e depois tentava repetir as receitas em casa. E dava certo”, conta.   De volta ao Brasil, arriscou as economias em um negócio gourmet. Abriu uma casa “muito chique demais da conta”, como definiu. Apesar da linha sofisticada, com um cardápio internacional, não teve muito sucesso. “Fiquei lá oito meses, perdi 38 mil dólares e não consegui deslanchar a casa”, lamenta.   O chef pegou a placa do “Chef Túlio International Gourmet” e levou para a praça Estevão Lunardi. Inaugurou o local com uma bela paella – o que, para amigos e convidados que moravam na região, pareceu uma afronta. “Meu cardápio era agressivo e meus preços, ofensivos para a turma do bairro”, brinca.   Com o tempo, o chef percebeu que precisava de um meio termo para conquistar clientes e manter a sofisticação. Foi quando sua esposa, Maria do Carmo, teve a ideia de transformar grandes pratos internacionais em comida de boteco. E assim nasceu o “Chef Túlio Internacional Butiquim”.   Nos tempos de barraquinha   Foi em homenagem à festa de São Geraldo, que acontece anualmente em Curvelo, na região Central de Minas Gerais, e onde Túlio Montenegro passou a infância e boa parte da adolescência, que o chef criou o prato “Nos tempos de Barraquinha”, que está no cardápio do festival Botecar de 2015, evento que neste ano vai movimentar 55 bares diferentes da capital.   “Eu me lembro muito bem das festas de São Geraldo de Curvelo, onde nos deliciávamos com os quitutes das barraquinhas. Recordo-me de uma específica, em que um senhor construiu um fogão a lenha e com uma única panela ele servia churrasquinhos cozidos envoltos em um molho diferente, servido com farofa”, conta.   Foi nesse momento de sua vida que o Chef Túlio buscou inspiração para criar uma receita de espetinhos de boi, frango e porco banhados em um molho picante de tomate, servido com dois tipos de farofa (uma de beterraba e outra de espinafre), torradinhas ou anéis de cebola, e um complemento de churrasquinho de abacaxi ou banana. “A Maria do Carmo aprovou, e quando ela aprova, eu sirvo”, brinca o chef, que contou ainda que usa a esposa como termômetro para montar o cardápio.   Curiosidade: o brinco   Conhecido pelo “chef que usa um brinquinho”, a fama se tornou marca do estabelecimento. Uma argola com um garfo, uma faca e uma colher pendurados estão por toda parte no bar. Seja em esculturas, desenhado na parede ou em produtos como seus exclusivos molhos de pimenta.   A moda foi lançada por Túlio, “bem antes da Débora Falabella”. “Minha esposa achou um par desses brincos no chão, em Charlottesville, na Virgínia, quando ainda morávamos nos Estados Unidos. Nunca mais eu tirei”, conta, sorrindo.   Harmonização   Para harmonizar “Nos tempos de barraquinha”, o chef recomenda uma produção da própria família: o chope artesanal Santa Tulipa. Fabricação que leva o nome de seu filho Thiago Montenegro.   Do tipo Pale Ale, chope puro malte, coloração dourada, cristalino e brilhante. Tem sabor pronunciado de malte, aromas frutados e médio amargor. Apresenta creme denso e consistente. 

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