Como o Napa Valley se tornou um grande destino enoturístico

Ricardo Galuppo - Hoje em Dia
28/12/2014 às 10:39.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:30
 (Ricardo Galuppo)

(Ricardo Galuppo)

Depois de provar uma costela de boi ao cabernet sauvingnon, harmonizada com um tinto da uva zinfandel (um dos ícones da região), pedimos que o garçom do Greystone — o restaurante do Instituto de Culinária da América, em Santa Helena, na Califórnia — indicasse vinícolas que não poderiam faltar no nosso roteiro. Afinal, estávamos no Napa Valley justamente para conhecer o que há de melhor naquela região dos Estados Unidos “mundialmente famosa” por seus vinhos, como anunciam sem a menor cerimônia as placas de madeira colocadas em pontos estratégicos da CA-29, rodovia que interliga as principais cidades da área.   A ideia era enriquecer nosso roteiro de viagens com nomes além dos óbvios, como a Opus One, a Robert Mondavi e a Inglewook, do cineasta Francis Ford Coppola. Queríamos conhecer produtores menores e surpreendentes. Solícito, o rapaz repassou o pedido a Michael Wolf, um dos gerentes de Greystone. Wolf nos ouviu com atenção e pediu licença. Minutos depois, retornou com uma lista de próprio punho, com nomes e telefones das vinícolas menos conhecidas. E satisfez nossa curiosidade a respeito de cada uma delas. “As menores nem recebem se você não tiver reserva”, disse.   Wolf (identificado no cartão de visitas como Instrutor de Hospitalidade) não foi o único que atendeu o pedido com cortesia e atenção. No Napa, as pessoas se mostram sempre dispostas a falar sobre vinho. “Quando não falamos sobre vinho, falamos sobre comida”, diz Jeff Perry, gerente do Napa Winey Inn, o hotel simpático, na beira da CA-29, onde nos hospedamos. As vinícolas recomendadas por Wolf são, de fato, diferenciadas. A número 1, Hess Collection, merece a visita, não penas pela qualidade do produto mas também pela coleção de arte moderna exposta na vinícola.   Julgamento de Paris   Um dos melhores tintos da casa, o Cabernet Mount Veeder, leva o nome do primeiro vinhedo adquirido por Hess na região. A propriedade foi comprada em 1978, apenas dois anos depois do célebre Julgamento de Paris, a degustação que chamou a atenção do mundo para a revolução que tinha lugar nos vinhedos da Califórnia.   Desde então, e a partir de um trabalho bem coordenado pela Universidade Berkeley, a região de Napa Valley, onde se produziam vinhos de qualidade irregular desde a colonização espanhola, no século 18, se firmou como uma referência da enologia e da gastronomia mundiais. A ponto de reproduzir, no mesmo cartaz que a apresenta como uma região mundialmente famosa, um verso de Robert Louis Stevenson, um poeta americano do século 19, que definiu: “E o vinho é a poesia engarrafada”.   Fique atento às preciosas e honestas dicas de Al Jabarin   No centro da região está a simpática cidade de Yountville, lugar que conta com um pequeno comércio, bons restaurantes e que, pela posição que ocupa, permite deslocamentos rápidos, pela CA-29 ou por rodovias secundárias, para as demais localidades.   Ao sul de Yount Ville fica Napa, sede do condado, onde se localiza a Cal Wine, uma das melhores lojas de vinho da região. Jordaniano de nascimento, o proprietário Al Jabarin, que é formado em economia e teatro, chegou a Napa nos anos 1990. Depois de vislumbrar a possibilidade de utilizar a internet, que então engatinhava, para comercializar vinhos.   O negócio deu certo e Jabarin logo o expandiu para uma loja física (a Calwine) e um restaurante, o 1313Main, que fica na Rua Principal (Main Street) de Napa.   Conselho: siga as recomendações de Jabarin. Ele sempre recomenda bons vinhos, de pequenos produtores, e não se preocupa com o preço, mas com a qualidade da bebida.   O lugar oferece programas turísticos mais convencionais, como o Wine Train que atravessa o vale numa viagem de três horas e que oferece jantar e degustações. Ou como o Castelo di Amorosa, uma vinícola instalada numa imitação de castelo toscano — que pode ser interessante como arquitetura, mas deixa a desejar pela qualidade do produto.   No mais, três ou quatro dias de uma viagem bem planejada são suficientes para conhecer uma região que se transformou graças ao vinho e a comida e que serve de exemplo para quem dá valor à qualidade.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por