(André Brant / Hoje em Dia )
Dez estudantes de gastronomia saíram da Itália em busca de novos territórios gastronômicos. O destino escolhido não poderia ser outro: Minas Gerais. Pelo menos duas vezes ao ano, a Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo, na Itália, oferece aos alunos uma viagem didática, nem sempre fora da Europa. Desta vez, as riquezas mineiras foram escolhidas para a expedição, em parceria com o movimento mundial Slow Food.
A viagem começou em Belo Horizonte, com uma visita ao Mercado Central e um passeio pelos bares da capital. Em Sabará, na região metropolitana, o grupo descobriu uma cooperativa de mulheres especializada na produção de jabuticaba. “Não conhecia a jabuticaba, mas poderia usá-la em vários pratos. É impressionante a diversidade de coisas que se pode fazer com a jabuticaba: molho de pimenta, vinho, licor, geleia. Dá para se aventurar em pratos doces e salgados”, diz Mathilde Vilsen, 27 anos.
De lá, o grupo seguiu para a Expedição “Sertão Norte de Minas”, que começou em Montes Claros, onde fica o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA).
Na cidade rural de Itacambira, eles conheceram o biscoito de forno de barro, a mandioca, o doce de marmelo, o requeijão, a rapadura, a geleia de mocotó e o frango caipira. Em Botumirim, a atração foi a pesca no rio.
A parada seguinte foi a cidade de Salinas, referência em produção de cachaça. A visita ao Museu da Cachaça, às fazendas e cachaçarias da região encantou Pietro Fasola, de 20 anos. “Fora do Brasil, eu achava que cachaça servia só para fazer caipirinha. Cheguei aqui e vi como fazer, como ocorre o envelhecimento, todo o processo por trás da cachaça. Aqui passei a apreciar a bebida. Salinas tem muito valor, foi uma descoberta, sairei do Brasil gostando de cachaça”, ressaltou.
A excursão seguiu para Januária e São João das Missões, onde os italianos visitaram a terra indígena Xakriabá, maior nação indígena do Estado, para conhecer sua gastronomia tradicional, da produção ao processamento dos alimentos. A rota continuou por Matias Cardoso para um encontro com uma comunidade de pescadores.
Voltando para a capital, eles visitaram o Mercado da Lagoinha, o restaurante Popular do Barreiro, hortas escolares e restaurantes tradicionais de BH. A expedição se estendeu para Ouro Preto e terminou com um almoço na cozinha do chef Eduardo Avelar.
A receptividade dos mineiros foi destacada pelos estudantes como uma das melhores surpresas da viagem. “Já tinha ideia que o Brasil era acolhedor, mas fiquei impressionada com a recepção das pessoas, com o modo de vida. Me encantei com uma senhora que cultiva frutas e verduras com a água da represa e fornece alimentos para escolas da região”, contou Marta Kiderlen, 23.
Nella Cerino explica sobre as plantas e ervas nativas de Minas Gerais
Nella quer promover a gastronomia de Minas Gerais no exterior, e este foi o primeiro passo
A jornalista e gastrônoma italiana Nella Cerino, que mora em Belo Horizonte, foi a idealizadora da expedição gastronômica pelo Estado.
Nella é ex-aluna da Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo – única universidade voltada exclusivamente para gastronomia. “Como sou formada pela universidade, solicitei ao reitor que esse grupo de estudantes pudesse vir conhecer o patrimônio agroalimentar mineiro. Desde que visitei Minas Gerais pela primeira vez, tenho vontade de promover a gastronomia mineira no exterior, este foi o primeiro passo que dei nesta direção”, disse.
Para Nella, a maior gratificação foi a declaração de um estudante que, antes de partir para a Itália, já pediu para voltar. “Eles ficaram muito felizes. O que me deixou mais satisfeita foi o pedido de um aluno que já quer voltar à Minas para fazer um curso com o chef Eduardo Avelar e um treinamento nas vinícolas daqui. Os estudantes perceberam que o nosso território pode crescer muito e se tornar um bom caminho profissional para eles. Já tenho ideias para a próxima expedição”, comemorou.
Pietro Fasola quer voltar em breve à Minas Gerais e já fez o seu pedido a Nella Cerino
Nella é um exemplo de turista que veio visitar o Estado e não quer mais voltar para a Itália. Ela saiu de Salermo, há três anos, passou por Juiz de Fora, Ouro Preto, Tiradentes, durante o Festival de Gastronomia, e se encantou. “Da primeira vez, vim para ficar 15 dias e fiquei três meses. A cada dia descobria coisas novas, que me davam mais entusiasmo para ficar. Na última semana, conheci o meu marido”, revelou.
Em Belo Horizonte, Nella colabora com a Frente da Gastronomia Mineira e outras instituições.
Típico da região Central do Estado, o prato que leva frango, taioba, ora-pro-nóbis, quiabo e angu,
preparado pelo Chef Eduardo Avelar, fez sucesso entre os estudantes
No último dia, os estudantes italianos experimentaram um menu inspirado nas regiões visitadas por eles