O melhor pé-de-moleque do mundo

Eduardo Avelar - Hoje em Dia
03/05/2015 às 11:45.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:52
 (Eduardo Avelar/Arquivo)

(Eduardo Avelar/Arquivo)

A pequena cidade de Piranguinho, a 480 quilômetros de Belo Horizonte, no Território da Mantiqueira e Sub território Sul/ Suíça, se tornou um dos mais emblemáticos símbolos da Identidade gastronômica regional em Minas Gerais, sendo hoje reconhecida como a capital nacional do pé-de-moleque.   Fundado em 1962, o município de Piranguinho teve sua história gastronômica iniciada ainda no final do século XIX e início do século passado, com a construção da estrada de ferro Sapucaí.   Segundo relatos de moradores locais, o pé-de-moleque apareceu na região de Piranguinho por volta de 1911, quando dona Maria Paulina de Noronha (Neném Paca) construiu, ao lado da estação ferroviária, um cômodo de madeira coberto com zinco no qual ela instalou um barzinho. Nele, os viajantes que passavam de trem podiam saborear um delicioso cafezinho com biscoitos, bolos, sonhos e uma variedade de doces, inclusive o pé-de-moleque, feitos por dona Neném. Em 1938, esse estabelecimento foi desativado, mas dois anos antes, em 1936, começou a história do famoso pé-de-moleque de Piranguinho, com a família de seu Modesto Torino.   A famosa Barraca Vermelha   O senhor Modesto Torino foi transferido de Porto Sapucaí para Piranguinho, onde exercia a função de chefe da estação local. Sua esposa, dona Matilde Cunha Torino, passou a se dedicar à fabricação caseira do doce de amendoim com rapadura, o pé-de-moleque.   Segundo outras fontes locais, inicialmente a dona Matilde vendia os docinhos apenas pelas janelas do trem na estação, mas após ajuda de seu marido, e com a contratação de meninos para vender dentro dos vagões, sua produção cresceu vertiginosamente. Segundo a lenda, há quem afirme ainda que o marido de dona Matilde chegava até a atrasar a partida dos trens para não atrapalhar as suas vendas.   Brincadeiras à parte, logo sua filha Alcéia Cunha Torino assumiu os negócios da família e, em 1963, com a desativação dos trens de passageiros, ela instalou uma barraca de madeira coberta de zinco e pintada de vermelho na margem direita da rodovia BR-459, no perímetro urbano de Piranguinho.    Atualmente, a sobrinha, Sônia Torino, está à frente da administração da Barraca Vermelha. Desde sua origem até os dias de hoje, muitas pessoas já tiveram o prazer de passar por Piranguinho e saborear esta deliciosa iguaria da culinária mineira. Foram vários ilustres como Juscelino, Tancredo Neves, José Alencar e Carlos Drummond de Andrade.   Seguindo os caminhos abertos pela Barraca Vermelha, vários outros produtores vieram se instalar na cidade de Piranguinho, construindo esta doce Identidade gastronômica: barracas Azul, Laranja, Verde, Amarela, Prata e Marrom; Fernandes, Rancho do Pé-de Moleque, Sítio São José e o Quiosque do Pé-de-Moleque.   Construindo a Identidade Gastronômica de Piranguinho   Nesta história de sucesso, muitos foram os capítulos percorridos por produtores, poder público, Sebrae, Circuito Turístico caminhos do Sul de Minas, e vários outros profissionais para chegar a produzir essa iguaria com a excelência dos produtos de Piranguinho e agregar valores culturais e turísticos.   No começo da caminhada, a produção era muito rudimentar, sem maiores cuidados, e a competição entre os produtores se tornavam fatores negativos para a qualidade do produto.   Percebidos esses problemas por profissionais da prefeitura de Piranguinho e do Sebrae, iniciaram um processo de aproximação com os produtores para busca de melhorias na produção.   Todas as dificuldades foram encontradas no percurso, desde a desconfiança natural até o receio de dividir experiências com a concorrência. Mas depois de alguns anos de insistência e perseverança dos profissionais e de alguns produtores, o grupo começou a entender as possibilidades que a produção cooperada ou associada poderia trazer, e agregar benefícios ao projeto pé-de-moleque.   O maior do mundo   Surgiu a Festa do Pé-de-Moleque, que neste ano estará em sua 15ª versão, e com ela a ideia de produzir o maior pé-de-moleque do mundo, e logo a fama do docinho de rapadura e amendoim começou a fazer fama.   O então deputado estadual Durval Ângelo, ao participar de uma comissão de avaliação do maior pé-de-moleque do mundo, e a pedido de produtores, poder público local e da comunidade, trouxe a iguaria para os salões da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O objetivo era adoçar a vida dos deputados e sensibilizá-los para aprovar uma lei reconhecendo o processo de produção do doce como Patrimônio Imaterial do Estado.   Muitas idas e vindas e enfim, em 1º de abril de 2009, foi aprovada a Lei 18057, reconhecendo a iguaria da cidade de Piranguinho, colocando definitivamente a cidade no mapa da cultura gastronômica mundial.  

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